SÃO PAULO (Reuters) - A indústria de veículos do Brasil espera um segundo trimestre de vendas "muito ruins", apesar de algumas montadoras se prepararem para reiniciar produção entre este mês e o próximo, e segue negociando com o governo um pacote de ajuda financeira, afirmou o presidente da associação que representa as montadoras, Anfavea, Luiz Carlos Moraes.
"O segundo trimestre vai ser dramático, talvez o terceiro trimestre seja um pouco melhor, dependendo da questão da saude", disse Moraes durante debate online promovido nesta segunda-feira pela editora especializada Autodata.
Na sexta-feira, a Anfavea divulgou que os licenciamentos de veículos no Brasil de janeiro a abril despencaram 27% ante mesmo período do ano passado, pressionados por tombo de 66% nas vendas de veículos em abril, mês em que o setor produziu menos de 2 mil unidades em todo o país.
"Em 2021, se controlarmos a questão da saúde, poderemos crescer", acrescentou.
Questionado sobre o andamento das discussões com o BNDES e bancos privados a respeito de financiamento às montadoras e suas fornecedoras, Moraes reafirmou que ainda não há um acordo, apesar de semanas de negociações.
O setor propõe utilizar 25 bilhões de reais em créditos tributários acumulados no governo como garantias a empréstimos a serem concedidos por BNDES e bancos privados, em um mecanismo que precisa ser regulamentado pelo governo.
"O setor emprega 1,2 milhão de trabalhadores diretos e indiretos. Se não tiver solução, vamos ter muitos problemas com certeza", disse ele, sem dar detalhes. "É um problema que só pode ser resolvido com diálogo com o governo", afirmou.
Nesta segunda-feira, a Fiat Chrysler anunciou "processo de retomada" de produção no Brasil, após 48 dias de paralisação. Segundo a companhia, o retorno será "gradual e foi precedido pela adoção de um conjunto amplo e consistente de medidas de padrão mundial em sanitização".
Moraes disse que a indústria automotiva segue considerando o Brasil como um mercado promissor no "médio e longo prazos". Mas a pandemia de Covid-19 está obrigando o setor a refazer contas.
"As vendas mundiais vão cair neste ano de 90 milhões para 70 milhões de veículos. Vamos ter ociosidade adicional de 20 milhões de veículos, então os executivos vão olhar para as suas unidades locais com muito mais atenção", disse o presidente da Anfavea, referindo-se ao custo de produção no Brasil e reformas ainda não implementadas, como a tributária.
"Pode ser que as empresas tenham que repensar seu conjunto de produtos, forma de atuação, forma de vender" no país, disse.
(Por Alberto Alerigi Jr.; edição de Aluísio Alves)