Por Parisa Hafezi e John Irish
DUBAI/PARIS (Reuters) - O Irã disse nesta quinta-feira que países europeus sucumbiram ao "valentão da escola" Donald Trump ao acionarem um mecanismo de resolução de disputas do acordo nuclear com a República Islâmica, ao qual o presidente dos Estados Unidos se opõe -- uma medida que pode levar à reativação de sanções da ONU.
O acordo, conhecido como JCPOA, foi firmado por Teerã e potências mundiais em 2015, oferecendo ao Irã um alívio das sanções se o país detivesse suas atividades nucleares. Trump retirou os EUA do acordo em 2018 e reativou sanções, dizendo querer um pacto mais rígido.
O Irã reagiu diminuindo o cumprimento dos termos do pacto, e neste mês disse que rejeitou todos os limites ao enriquecimento de urânio, embora queira manter o acordo em vigor.
Reino Unido, França e Alemanha acionaram o mecanismo de resolução de disputas do acordo nesta semana. O governo britânico disse que é hora de um "acordo de Trump" substituí-lo, e a França disse que conversas abrangentes são necessárias.
Na quarta-feira, o jornal Washington Post noticiou que os EUA ameaçaram impor uma tarifa de 25% sobre importações de peças automobilísticas europeias se os três países europeus não acusassem o Irã de violar o acordo nuclear formalmente.
"Apaziguamento confirmado. O E3 vendeu os resquícios do #JCPOA para evitar novas tarifas de Trump. Não funcionará, meus amigos. Vocês só atiçam o apetite dele. Lembram do valentão da escola?", escreveu o ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif, no Twitter.
Dois diplomatas europeus confirmaram que os EUA ameaçaram tarifas, mas disseram que os líderes dos três Estados europeus já haviam decidido acionar o mecanismo antes disso.
Outro diplomata disse que os EUA criam o risco de "desacreditar o europeus, mas Trump na verdade não liga para isso", acrescentando que a ameaça de impor tarifas enviaria ao Irã a mensagem de que só Washington importa.
A União Europeia disse nesta quinta-feira que seu principal diplomata, Josep Borrell, teve conversas "francas" com Zarif nos bastidores de uma conferência em Nova Délhi.
Os europeus se opõem há tempos à decisão de Trump de romper com o pacto nuclear. O mecanismo de disputa inicia um processo diplomático que pode acabar fazendo com que sanções da Organização das Nações Unidas (ONU) ao Irã sejam reativadas, embora os europeus digam que esse não é seu objetivo.