Os juros futuros deram sequência ao movimento da véspera e fecharam em baixa nesta sexta-feira, sustentando o sinal de queda mesmo com a pressão do câmbio, embora as máximas da moeda à tarde tenham desacelerado o ritmo de recuo das taxas. Essencialmente, o alívio com o Orçamento continuou reverberando, num dia mais fraco de notícias e indicadores, tanto aqui quanto lá fora, a não ser os detalhes do texto, sancionado na quinta-feira com veto parcial. A curva fechou a semana com redução nos níveis de inclinação, promovida pela melhora de percepção do risco fiscal pós-Orçamento e acomodação dos Treasuries nos últimos dias.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 4,615%, de 4,641% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 7,776% para 7,69%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 8,34%, de 8,424% no ajuste anterior.
Para o operador de renda fixa da Terra Investimentos Paulo Nepomuceno, a questão fiscal e a abundância da liquidez pelo mundo são os principais responsáveis pela queda das taxas longas desde a quinta-feira. "Com o Orçamento sancionado, passou a preocupação com a descontinuidade do governo e agora dificilmente vão emplacar o impeachment, mas tendo o Centrão como parceiro o viés não é de austeridade", afirmou.
O desenho final do Orçamento acabou saindo como esperava a equipe econômica, com ajuste total de R$ 29 bilhões, mas não sem exigir extensas negociações com os parlamentares e não sem críticas de especialistas, uma vez que as despesas com a pandemia (classificadas oficialmente como extraordinárias) estão fora da meta fiscal e do teto de gastos e podem ser imprevisíveis.
"Seria melhor ter um valor estimado, haver uma revisão para uma meta maior. Seria mais transparente se tivesse sido feito dessa maneira", afirmou o diretor da ASA Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall.
Para Nepomuceno, o mercado está olhando agora mais o curto prazo e vendo que o Banco Central "está conseguindo conter as expectativas no gogó" e também sente que há fluxo para o Brasil, considerando que as commodities estão "bombando" e vide o fato de o Tesouro ter conseguido vender na quinta um lote de 300 mil NTN-F, para, segundo ele, atender à demanda de estrangeiros. "Hoje os juros não sentem tanto a virada do câmbio porque a ponta longa tinha subido muito em função do imbróglio do Orçamento e isso agora saiu da frente", explicou.