Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros subiram pela segunda sessão consecutiva no Brasil nesta quarta-feira, em meio à expectativa pela aprovação, no Congresso, de projetos importantes para o governo Lula e com os rendimentos dos Treasuries também em alta no exterior, em dia de divulgação da ata do Federal Reserve.
Desde cedo, as negociações em Brasília em torno do projeto de reforma tributária -- um dos principais focos atuais do governo -- permeavam as mesas de operação.
Assim como ocorreu na sessão da véspera, os receios de que a proposta possa ser desfigurada na Câmara, em função dos diferentes interesses setoriais, trazia cautela para os negócios. Outro incômodo era se o projeto será de fato votado nesta semana.
“Julgamos que a proposta a ser votada, embora não seja a ideal, representa significativa melhora em relação à caótica situação atual”, pontuou em comentário enviado a clientes o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares.
Na prática, ainda que não seja perfeita, a proposta de reforma tributária é vista pelo mercado como um avanço estrutural para o país.
Pela manhã, o presidente da Câmara, deputado federal Arthur Lira (PP-AL), disse que pretende colocar a proposta de reforma tributária para votação no plenário da Casa na quinta-feira, após início da discussão em plenário ainda nesta quarta.
O deputado apontou a formatação do Conselho Federativo, que será responsável pela centralização da arrecadação de impostos, como um dos pontos que vêm sendo negociados na reforma e avaliou que governadores das regiões Norte e Nordeste têm se mostrado favoráveis ao texto, enquanto os do Centro-Oeste ainda têm resistências.
“Lira disse que deve levar a reforma ao plenário para votação em primeiro turno na quinta-feira. Então, o mercado fica na expectativa, porque quer saber se vai ser resolvido esta semana ou se fica mais para frente”, comentou o analista Lucas Serra, da Toro Investimentos.
Além da expectativa em torno da reforma tributária, os investidores aguardam os desdobramentos da tramitação na Câmara da proposta que devolve ao governo o voto de desempate nas decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e do projeto do novo arcabouço fiscal, que foi alterado no Senado. No caso do Carf, Lira espera que a votação também ocorra nesta semana.
Os investidores ainda voltaram as atenções nesta quarta-feira à divulgação da ata do último encontro do Fed, no meio da tarde, em busca de pistas sobre os próximos passos da política monetária dos EUA.
Os rendimentos dos Treasuries já subiam antes mesmo da ata e, após a divulgação do documento, se mantiveram no território positivo. No texto, o Fed informou que seus membros concordaram em manter a taxa de juros na faixa de 5% a 5,25% na reunião de junho como uma forma de ganhar tempo e avaliar se seriam necessários novos aumentos, ainda que a grande maioria esperasse por mais apertos na política monetária.
O avanço dos rendimentos dos títulos norte-americanos reforçou o viés de alta das taxas dos contratos futuros de juros no Brasil.
Como resultado, perto do fechamento a precificação na curva a termo para a reunião de agosto do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central era de 56% de chances de corte de 0,25 ponto percentual da Selic e 44% de probabilidade de corte de 0,50 ponto percentual. Na terça-feira, também perto do fechamento, estes percentuais eram 53% e 47%, respectivamente.
Em relatório a clientes, o UBS BB (BVMF:BBAS3) informou nesta quarta-feira que antecipou sua previsão de início de cortes da taxa básica Selic, de setembro para agosto. O banco de investimentos pontuou que espera por um corte inicial de 0,25 ponto percentual da Selic em agosto e, posteriormente, um corte de 0,50 ponto em setembro.
Com isso, o UBS BB acompanhou outras instituições que, em função dos sinais mais recentes do BC, passaram a prever o início do afrouxamento monetário para agosto.
No fim da tarde desta quarta-feira a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,805%, ante 12,79% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,77%, ante 10,712% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,18%, ante 10,065% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,215%, ante 10,081%.
Os rendimentos dos Treasuries se mantinham em alta no fim da tarde.
Às 16:37 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 7,90 pontos-base, a 3,9375%.