No dia em que a ata do Copom alertou sobre os risco que políticas parafiscais podem trazer para a potência da política monetária, a confirmação de que o coordenador técnico do governo de transição e ex-ministro Aloizio Mercadante será o presidente do BNDES na gestão Lula desencadeou no meio da tarde movimento de forte avanço nos juros futuros. Até então, as taxas oscilavam com viés de alta já trazido pelo desconforto com a oficialização do economista Gabriel Galípolo como secretário-executivo da Fazenda. Pela manhã, o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) nos Estados Unidos abaixo do consenso até conseguiu segurar as taxas em queda, mas as incertezas domésticas acabaram se impondo durante a sessão.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 14,06%, de 13,980% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 13,41% no ajuste para 13,65%. O DI para janeiro de 2027 saltou de 13,11% para 13,33%.
O volume de contratos movimentados foi novamente expressivo, reflexo de zeragem de posições e aumento da postura defensiva na medida em que vai se desenhando um perfil desenvolvimentista na equipe econômica e nomes na linha mais liberal vão sendo descartados. O anúncio de Galípolo como número 2 da Fazenda, abaixo de Haddad, já zerou o sinal de baixa que as taxas exibiam pela manhã em sintonia com a curva americana, por sua vez, em reação ao CPI de outubro, de 0,1%, ante consenso de 0,2%. O núcleo (0,2%) também subiu menos do que o esperado (0,3%).
O economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, destaca que Galípolo é "muito próximo" ao economista Luiz Gonzaga Belluzzo, cuja linha vai na contramão do que o mercado defende. "O secretário-executivo é quem vai tocar o dia a dia da Fazenda. Vamos ver quem será o secretário responsável pela formulação das políticas, é um cargo-chave. Frustraria muito alguém não-alinhado ao mercado", afirmou.
Haddad, que deve divulgar mais nomes em entrevista coletiva marcada para as 18h30, disse ontem querer uma "pluralidade de vozes no Ministério". A reação da curva à confirmação de Mercadante no BNDES foi feroz. Mercadante falou recentemente em "abrasileirar" os preços da Petrobras (BVMF:PETR4) e prega mudanças na Taxa de Longo Prazo (TLP), que o Banco Central diz ter ajudado a aumentar a potência da política monetária nos últimos anos.
Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale (BVMF:VALE3), se o BNDES adotar crédito subsidiado ou o novo governo acabar substituindo a TLP pela antiga TJLP, há um risco de aumento da taxa neutra de juros no País. "Junto com a questão fiscal mal resolvida, o governo Lula está caminhando para ser um governo no qual o juro neutro fica maior", afirma.
Pela manhã, a ata do Copom alertava que "mudanças em políticas parafiscais ou a reversão de reformas estruturais podem reduzir a potência da política monetária, caso levem a uma alocação menos eficiente de recursos na economia". "Nos diferentes exercícios analisados, avaliou-se que o efeito final, seja sobre a inflação ou sobre a atividade, dependerá tanto da combinação quanto da magnitude das políticas fiscal e parafiscal", acrescentou o BC.
Ainda na ata, o BC diz ver um "hiato do produto" reduzido e ter notado "com preocupação" elevação na média das expectativas para 2024. "O Copom está descrevendo um cenário de pouca ociosidade na economia e pouca credibilidade na sustentabilidade da dívida que deve tirar potência da política monetária. O recado foi muito claro", diz Olivares.
Tudo considerado, a leitura é que, mesmo com a inflação caindo, os riscos fiscais devem postergar o ciclo de afrouxamento monetário e a Selic deve permanecer em 13,75% por longo período.
Na agenda, a queda de 0,6% no volume de serviços em outubro, na margem, trouxe alívio moderado nas taxas no começo da sessão, com o mercado mais interessado nos nomes do governo e à espera do CPI americano.