Os juros futuros fecharam a sessão em alta firme, numa combinação de ajustes técnicos com o ambiente externo que resultou na realização de lucros que o mercado ontem não conseguiu concluir. A abertura dos juros globais deu espaço para uma recomposição de prêmios nos principais vencimentos. A agenda local esteve esvaziada, mas a derrota do governo no Senado na questão da desoneração da folha de pagamentos foi citada como um dos fatores a apoiar a correção, além da entrevista do diretor do Banco Central Renato Dias Gomes, ao Broadcast/Estadão, afirmando que o Copom não deve ter pressa na redução da Selic.
O impulso foi maior nas taxas longas, que entre ontem e hoje devolveram toda a queda vista na semana passada. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,075%, de 12,983% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,032% para 11,19%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,74%, de 10,49%, e a do DI para janeiro de 2029 voltou a cruzar a marca de 11%, fechando em 11,13% (máxima), de 10,85%.
O mercado ontem chegou a ensaiar uma realização mais firme, mas que acabou sendo esvaziada pelas declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que os movimentos de mercado abrem espaço para uma atuação do Copom mais à frente, lidas como um sinal de que a Selic pode começar a cair no terceiro trimestre.
À noite, porém, o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Dias Gomes, defendeu, em entrevista ao Broadcast/Estadão, cautela para entender como a política monetária está agindo nos canais esperados e se a desinflação vai ocorrer como o BC aguarda. "Acho que não tem que ter pressa, porque um afrouxamento açodado tem custos elevados para o País no futuro", disse.
A fala não abalou a convicção dos agentes de que os cortes começarão no Copom de agosto, mas acabou servindo de argumento no processo de redução de posições vendidas e aparando expectativas de queda inicial de 0,50 ponto porcentual.
O economista da Guide Investimentos Victor Beyruti acredita que a pressão do mercado internacional acabou atraindo ajustes técnicos no Brasil, mas sem mudanças do ponto de vista dos fundamentos. "Tivemos um pouco de correção com essa abertura da curva dos Treasuries, mas num movimento de certa forma controlado de alta por aqui", disse.
Lá fora, ainda que o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) de maio nos Estados Unidos dentro do esperado tenha ratificado as apostas de manutenção do uro pelo Federal Reserve na decisão de amanhã, os yields dos Treasuries tiveram avanço expressivo, com a da T-Note de dois anos atingindo os maiores níveis em três meses, acima dos 4,70% à tarde. O comportamento da curva refletiu a perspectiva de que a decisão de amanhã, caso se confirme, deve representar apenas uma pausa, com o Fed retomando o aperto no encontro de julho.
Também ficou no radar a aprovação pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado do projeto de lei que prorroga a desoneração da folha de pagamento até o final de 2027 para 17 setores da economia. A renúncia representa cerca de R$ 11 bilhões dos gastos tributários do País e, portanto, o resultado é considerado uma derrota para o governo, que precisa conseguir receitas para manter em pé as metas do arcabouço fiscal. O texto agora será apreciado pelo Senado.
Hoje o Tesouro Nacional realizou leilão de NTN-B, com lote de 1,150 milhão de títulos, mas vendeu 1 milhão, rejeitando propostas para o papel longo (2050), cuja oferta era de 150 mil. O risco para o mercado foi de US$ 438 mil, de US$ 716 mil no leilão anterior, segundo a Necton Investimentos.