Os juros futuros terminaram a segunda-feira, 16, em alta consistente, refletindo preocupações com o cenário fiscal e de inflação. As máximas foram atingidas à tarde, com o mercado repercutindo a possibilidade de aumento do salário mínimo em 2023 acima dos R$ 1.320 previstos no Orçamento aprovado pelo Congresso. Antes, porém, já subiam com a reação negativa ao aumento das medianas de IPCA no Boletim Focus. A escalada, contudo, se deu num ambiente de liquidez mais fraca, resultado da ausência dos mercados em Nova York, em dia de feriado nos Estados Unidos.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,54%, de 13,44% no ajuste de sexta-feira. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,41% para 12,63% e a do DI para janeiro de 2027, de 12,20% para 12,48. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 12,59%, de 12,30%.
O risco fiscal já permeava os negócios desde cedo, dada a desconfiança com relação às propostas apresentadas pelo governo na semana passada. Agradam em teoria, mas na prática precisariam de um cenário bastante favorável para darem certo. A expectativa do governo é de um ajuste de R$ 242,6 bilhões, sendo a maior parte via receitas. "É mais uma carta de intenções do que algo efetivo, dependente de aval político em muitas instâncias", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho (NYSE:MFG), Luciano Rostagno, segundo o qual, mesmo após as medidas, seguem as dúvidas quanto à sustentabilidade da dívida pública.
À tarde, a pressão na curva ganhou fôlego após o Broadcast informar que o presidente Lula avalia reajustar o mínimo acima dos R$ 1.320, segundo técnicos da equipe econômica. O Ministério da Fazenda, entretanto, seria contrário à proposta. Uma ala do governo defende que essa despesa seja custeada com parte do corte de R$ 50 bilhões de gastos proposto pela Fazenda. "É um fator adicional à pressão já exercida na curva pelas preocupações fiscais", confirmou Rostagno.
Em boa medida, o governo aposta na reforma tributária para conseguir colocar a casa em ordem. "A reforma tributária que está no Congresso é essencial", disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em participação no Fórum de Davos. Segundo ele, a ideia é uma reforma neutra, que não aumente a carga tributária, "para que todos ganhem".
Além do risco fiscal, qualquer R$ 1 de aumento do salário mínimo, pelo efeito multiplicador, amplia a pressão na inflação, num momento em que as expectativas não param de piorar. A do IPCA de 2025 saltou de 3,30% para 3,50%, de 3,10% há um mês. A do IPCA de 2026 passou de 3,20% para 3,22% na última semana, contra 3,00% um mês antes. A projeção para o IPCA deste ano também subiu, de 5,36% para 5,39%, contra 5,17% há um mês. Para 2024, horizonte que fica cada vez mais relevante para a estratégia de convergência à inflação do BC, a projeção ficou estável em 3,70%, de 3,50% há quatro semanas.
A puxada das medianas de IPCA no longo prazo no Focus ocorre em meio às dúvidas sobre as metas de inflação no governo Lula, com o mercado começando a precificar o risco de um alvo mais acima. A meta central estipulada para 2025 é de 3,0%, mas a de 2026 ainda não foi definida. O mandato do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, termina no fim de 2024.
"O Boletim Focus, além de passar a precificar um claro impacto inflacionário de uma agenda fiscal mais expansionista, também passa a considerar uma gordura para risco de voltarmos a trabalhar com uma meta implícita mais elevada ou até mesmo que haja uma revisão do curso baixista das metas de inflação, que convergiram para 3,0%", comenta o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.