Por Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - Os adversários da presidente Dilma Rousseff dentro do PMDB, maior partido da coalizão governista, estão perdendo as esperanças de que podem promover o impeachment da petista e substituí-la pelo vice presidente Michel Temer, que também preside o PMDB.
A decisão no fim de 2015 do Supremo Tribunal Federal (STF) que ampliou a autoridade do Senado, onde a base de Dilma é mais sólida, no processo de impeachment, reduziu a influência do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafeto do Palácio do Planalto, e enfraqueceu o esforço dos partidos de oposição para tirar Dilma do cargo.
Defensores do impeachment acusam a presidente de ter manipulado as contas públicas para elevar os gastos em 2014, ano em que se reelegeu para um segundo mandato.
Mas, nas últimas semanas, um crescente consenso surgiu no ambiente político de que as evidências contra Dilma são muito frágeis para justificar o impedimento.
O governo está confiante de que tem mais que o um terço dos votos necessários nas duas Casas do Legislativo para garantir que o processo não tenha andamento.
"A força do impeachment diminuiu, sim, em função da intervenção brutal do Supremo sobre a Câmara em dezembro. Foi uma intervenção absurda, em que alguns ministros a serviço do Planalto rasgaram a Constituição e o regimento da Casa", disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), que acredita que Dilma deve deixar o cargo para o Brasil se recuperar de sua pior recessão desde a Grande Depressão da década de 1930.
Os críticos mais ferrenhos de Dilma dentro do PMDB estão agora focados em seus esforços para buscar o rompimento da aliança com o governo na convenção do partido, marcada para março. Eles esperam que esse rompimento provoque a queda do governo pouco mais de um ano depois do início do segundo mandato de Dilma.
Perondi disse que a luta agora é aprovar o rompimento do PMDB com o governo em março.
"Ficar significa morrer abraçado com o PT, que vai ter uma derrota pavorosa (nas eleições municipais) em outubro. Ficar significa dizer à população que nós não queremos mudança", disse.
ALÍVIO
O PMDB, que tem os presidentes da Câmara e do Senado e os titulares de seis ministérios do governo Dilma, além do vice-presidente, está com seus caciques divididos sobre deixar o governo tão antes da eleição presidencial de 2018, quando o partido pretende lançar um nome próprio ao Palácio do Planalto.
"Não vejo o partido deixando o governo em março", disse um peemedebista de alto escalão, que pediu para não ter seu nome revelado. "A convenção vai decidir uma saída gradual, para preparar a candidatura do PMDB em 2018."
No Palácio do Planalto, há uma crescente sensação de alívio com a avaliação de que a ameaça do impeachment diminuiu, embora pessoas próximas à presidente afirmem que não vão baixar a guarda.
"O impeachment perdeu força, com certeza", disse um ministro peemedebista à Reuters com a condição de não ter seu nome revelado. "Ficou patente para a população que seria preciso um fato determinante, um crime, para iniciar o processo. E não há nada disso."
Dilma tem negado qualquer irregularidade, mas denúncias recentes envolvendo o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, renovaram os temores de que a presidente pode ser implicada na ampla investigação sobre um bilionário esquema de corrupção na Petrobras (SA:PETR4).
Qualquer evidência de que a campanha à reeleição de Dilma foi financiada com dinheiro de corrupção pode revigorar os esforços pelo impeachment e para anular sua eleição na Justiça Eleitoral. A recessão econômica e alta da inflação também podem dar fôlego a novas manifestações contra Dilma.
Qualquer um desses cenários pode dar novo vigor à ala anti-Dilma do PMDB.
"O PMDB, desde que existe, é um partido dividido. Nunca tivemos o apoio total do PMDB", disse um auxiliar da presidente. "Ainda assim, estamos confiantes que eles continuarão a participar do governo."
(Reportagem adicional de Leonardo Goy e Alonso Soto)