SÃO PAULO (Reuters) - A Klabin (SA:KLBN11) passou nesta quarta-feira boa parte de uma teleconferência com analistas e jornalistas explicando que o projeto de expansão anunciado pela empresa de papel e celulose na véspera não vai comprometer as finanças da companhia e representa uma oportunidade importante em um momento em que cresce a rejeição ao plástico no mundo.
Executivos da companhia não quiseram fazer projeções sobre qual vai ser o índice de endividamento da empresa após a companhia desembolsar 9,1 bilhões de reais no projeto de expansão que vai quase dobrar a capacidade da Klabin de produção de papel kraft, usado em embalagens, de 1 milhão de toneladas por ano para cerca de 1,9 milhão de toneladas.
Apesar disso, o gerente de planejamento financeiro da Klabin, Marcos Ivo, afirmou durante a teleconferência que mesmo em cenários de estresse "bastante forte" a Klabin não vai atingir o pico de alavancagem de 6,2 vezes registrado no ciclo anterior de expansão, quando a empresa iniciou em 2016 a produção de celulose no Paraná depois de também investir cerca de 9 bilhões de reais. A Klabin terminou 2018 com uma relação de dívida líquida sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 3,1 vezes em reais e de 2,9 vezes em dólares.
As preocupações decorrem em parte do momento vivido pela economia global, com sinais de desaceleração nos Estados Unidos, guerra comercial de Washington com a China, incertezas sobre o Brexit e crescimento lento em mercados importantes da América Latina, como Brasil e Argentina.
O presidente da Klabin, Cristiano Teixeira, contudo, minimizou os temores sobre se haverá demanda para toda a oferta de papel para embalagens que a empresa vai ter a partir de 2023, com o previsto início da segunda fase do projeto de expansão, chamado de Puma 2.
"Temos visto um momento de instabilidade agora. Mas a gente se baseia em questões estruturais...Enxergamos a embalagem de papel como um produto estruturalmente vencedor no futuro, seja pela substituição de produtos com dificuldade de reciclagem, seja pela demanda potencial", afirmou Teixeira. Ele acrescentou que o Brasil tem um consumo de referência de 15 quilos de papel por ano ante cerca de 50 quilos em países europeus. "Tem possibilidade de crescimento per capita muito forte. Não há dúvida alguma que este é um produto vencedor."
Ivo afirmou que a Klabin vai financiar a expansão com recursos próprios e poderá avaliar novas captações com agências de fomento à exportação se as condições "forem boas em termos de prazo e custo". A empresa concluiu em abril processo de gestão de dívida, com captações de quase 7 bilhões de reais. "Com isso aumentamos o prazo médio da nossa dívida e reduzimos de maneira significativa as amortizações de 2019 a 2024", disse o executivo.
As units da companhia passaram grande parte da sessão na ponta positiva do Ibovespa e terminaram em alta de 3,44 por cento, a 16,54 reais.
Parte do otimismo de Teixeira decorre da flexibilidade do projeto de expansão, que é voltado para exportações. A segunda etapa prevê a instalação de uma capacidade de produção de papel kraftliner de média a alta gramatura que poderá ser convertida em máquina de papelcartão, que atravessa uma fase de fraqueza atualmente. Essa conversão exigiria investimento adicional da ordem de 10 por cento do projeto, disseram executivos da empresa.
Além disso, parte da capacidade da máquina, de 470 mil toneladas anuais, poderá ser usada, se houver necessidade decorrente de uma eventual fraqueza externa, para suprir a demanda do mercado interno, substituindo a produção de papel reciclado da companhia, que hoje é de 220 mil toneladas anuais.
"Hoje o mercado está desenhado para kraftliner e a grande vantagem (de Puma 2) é poder converter para cartões com um investimento adicional baixo", disse Teixeira.
O executivo afirmou ainda que Puma 2 abrirá para a Klabin "uma nova fronteira", permitindo à companhia ficar mais atenta a oportunidades de consolidação no mercado papel para embalagens, com foco inicial no Brasil e secundário na América Latina. Ele não descartou interesse da empresa em aquisições na área de celulose, "se surgir oportunidade".
Ainda na teleconferência, executivos da companhia afirmaram que Puma 2 terá um custo caixa de produção 25 por cento menor que as fábricas atuais da companhia. A empresa já está comprando áreas de florestas em pé para abastecer as máquinas novas de Puma 2.
(Por Alberto Alerigi Jr.)