Por Adrian Croft e Sergei Karpukhin
BRUXELAS/DONETSK (Reuters) - O presidente russo, Vladimir Putin, disse nesta segunda-feira que a Rússia está enviando um comboio de ajuda ao leste da Ucrânia, apesar dos alertas ocidentais contra o uso de ajuda humanitária como pretexto para uma invasão.
Num momento em que a Ucrânia relata que a Rússia reuniu 45 mil soldados em sua fronteira, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) declarou haver uma "probabilidade alta" de Moscou intervir militarmente no leste ucraniano, onde as forças de Kiev fecham o cerco contra os separatistas pró-Rússia.
O Ocidente teme que Putin – que insuflou as paixões russas com uma campanha nacionalista na mídia estatal desde que anexou a Crimeia em março – pode enviar suas forças para o leste para impedir uma derrota rebelde humilhante.
Acredita-se que milhares de pessoas sofrem escassez de água, eletricidade e suprimentos médicos devido aos combates, mas o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse a seu colega ucraniano que qualquer intervenção russa sem o consentimento de Kiev seria inaceitável e violaria a lei internacional.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, enviou uma mensagem mais áspera a Putin em um telefonema nesta segunda-feira. "O presidente Barroso alertou contra quaisquer ações militares unilaterais na Ucrânia, sob qualquer pretexto, incluindo humanitário", declarou o organismo em um comunicado.
Em sua própria versão da conversa, o Kremlin deixou claro que Moscou de fato irá enviar ajuda à região ucraniana onde a maioria fala russo.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) disse que se reuniu nesta segunda-feira com autoridades ucranianas e russas para discutir a proposta russa de ajuda ao leste da Ucrânia.
Em um comunicado, a organização de ajuda independente disse que enviou um documento para ambas as partes e que precisava de um compromisso de todos, bem como garantias de segurança para a realização da operação, uma vez que não usa escoltas armadas.
O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, manifestou apoio a uma missão de ajuda, contanto que se trate de um esforço internacional sob a égide do CICV, envolvendo a União Europeia e também a Rússia.
Ele obteve a aprovação de Obama quando os dois se falaram por telefone nesta segunda-feira.
Mais cedo, Kiev afirmou estar nos "estágios finais" da recaptura da cidade de Donetsk, bastião dos separatistas no leste, em uma batalha que pode ser um divisor de águas no conflito.
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, disse não haver sinal de que a Rússia tenha retirado suas tropas da divisa ucraniana. Indagado em uma entrevista à Reuters sobre a probabilidade de uma intervenção militar russa, Rasmussen declarou: "Existe uma probabilidade alta".
A Otan receia que Moscou use uma missão de ajuda como disfarce para salvar os rebeldes, que lutam pelo controle de duas províncias da chamada "Nova Rússia", termo que Putin tem usado para o sul e o leste da Ucrânia.
(Reportagem adicional de Richard Balmforth, Pavel Polityuk e Natalia Zinets em Kiev, Alexei Anishchuk e Lina Kushch em Donetsk, Katya Golubkova em Moscou, Stephanie Nebehay em Genebra, Mark Felsenthal em Washington r Barbara Lewis em Bruxelas)