Por Hugh Bronstein
BUENOS AIRES (Reuters) - O juiz argentino responsável pelo caso do pior atentado a bomba da história da Argentina levantou dúvidas nesta quinta-feira sobre as denúncias feitas por um promotor contra a presidente do país, Cristina Kirchner, segundo as quais a mandatária tentou ajudar os suspeitos pelo ataque a evitar o julgamento.
Alberto Nisman, promotor público que investiga a explosão ocorrida num centro comunitário judaico de Buenos Aires em 1994 em que 85 pessoas morreram, disse na quarta-feira que Cristina abriu um canal de comunicação secreto com o grupo de iranianos suspeito de ter plantado a bomba.
Ele divulgou a denúncia contra Cristina e seu chanceler, dizendo que o esquema teria a intenção de absolver os suspeitos para que a Argentina pudesse levar adiante uma troca de grãos pelo imprescindível petróleo iraniano.
Mas Rodolfo Canicoba Corral, juiz à frente do caso, disse à rádio estatal que ele, ao contrário do que deveria ter sido feito, não foi consultado sobre a investigação do promotor a respeito de Cristina.
Ele também disse que as evidências apresentadas pelo promotor público, incluindo ligações telefônicas gravadas em que, segundo Nisman, agentes de segurança conversam com os suspeitos pelo atentado, são falhas.
"Quando as escutas são feitas sem controle, elas não são irrefutáveis", disse Canicoba Corral. "Nisman decidiu sozinho abrir uma investigação sem controle judicial."
O promotor público disse que a tentativa de camuflar os responsáveis pelo atentado a bomba fazia parte de um plano para usar o petróleo iraniano na redução do déficit energético da Argentina, da ordem de 7 bilhões de dólares.
A Argentina tornou-se um país importador de recursos energéticos à medida que os investimentos do país no setor petrolífero foram adiados em meio a fortes intervenções do governo no mercado.
Os tribunais argentinos acusaram o Irã de apoiar o atentado a bomba, acusação que o país nega. A embaixada iraniana em Buenos Aires não quis comentar o caso nesta quinta-feira.
Em 2013, Cristina tentou criar uma "comissão da verdade" junto ao Irã para esclarecer o ataque. Ela disse à época que o pacto reativaria o inquérito, mas Israel e grupo judaicos afirmaram que a iniciativa prejudicaria o processo criminal.
A comissão da verdade foi depois revogada por um tribunal argentino.
Nisman disse que a comissão tinha a intenção de ajudar na cassação dos mandados da Interpol contra os cinco iranianos suspeitos de serem autores do atentado, uma medida destinada a normalizar as relações bilaterais.
O chefe do gabinete de ministros da Argentina, Jorge Capitanich, disse que as acusações de Nisman são "malucas, absurdas, ilógicas, irracionais, ridículas, inconstitucionais" e orquestradas por forças da oposição, cujo objetivo é gerar descrédito em relação a Cristina no fim de seu segundo mandato.
A Argentina tem eleições presidenciais marcadas para outubro. Cristina está impedida por lei de concorrer a um terceiro mandato consecutivo.
(Reportagem adicional de Jorge Otaola)