Por Steve Holland e Parisa Hafezi
NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente iraniano, Hassan Rouhani, trocaram provocações na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas nesta terça-feira, com Trump prometendo mais sanções contra Teerã e Rouhani sugerindo que seu equivalente norte-americano sofre de "fraqueza intelectual".
Trump utilizou seu pronunciamento anual nas Nações Unidas para atacar a "ditadura corrupta" do Irã, elogiar o "bicho-papão" do ano passado, a Coreia do Norte, e para deixar uma mensagem desafiadora de que irá rejeitar o globalismo e proteger os interesses da América do Norte.
Mas a maior parte do seu pronunciamento de 35 minutos foi direcionado ao Irã, que é acusado pelos Estados Unidos de ter ambições nucleares e de fomentar a instabilidade no Oriente Médio através de seu apoio a grupos militantes na Síria, no Líbano e no Iêmen.
"Os líderes do Irã semeiam caos, morte e destruição", disse Trump no discurso. "Eles não respeitam seus vizinhos ou fronteiras ou os direitos soberanos de outras nações".
Rouhani, que se dirigiu aos líderes mundiais depois do presidente dos EUA, criticou a decisão de Trump de se retirar do acordo nuclear de 2015 com o Irã, disse que não tinha "necessidade alguma para uma oportunidade de foto" com Trump e sugeriu que a retirada do presidente norte-americano de instituições globais seria um desvio de caráter.
"Confrontar o multilateralismo não é sinal de força. É na verdade um sintoma de fraqueza intelectual - entrega uma falta de habilidade para entender um mundo complexo e interconectado", disse.
O pronunciamento de Trump foi recebido com silêncio dos líderes mundiais ainda não confortáveis com as visões isolacionistas que enfraqueceram as relações dos Estados Unidos com aliados tradicionais pelo mundo.
Seu discurso, embora feito de maneira discreta, foi ainda assim uma reafirmação de sua política "América Primeiro". Trump abalou a ordem mundial ao retirar os EUA do acordo nuclear com o Irã e do acordo do Clima de Paris, ameaçando ainda punir os países da Otan que não pagassem mais por sua defesa comum.
"Nós nunca iremos entregar a soberania da América a uma burocracia global que não é eleita e não é responsável", disse Trump no mesmo linguajar que é popular entre sua base política. "A América é governada por americanos. Rejeitamos a ideologia do globalismo, e abraçamos a doutrina do patriotismo".
Além de se dirigir ao Irã, Trump também criticou a China por suas práticas comerciais, mas não fez menções à interferência russa na guerra da Síria ou sobre a suspeita de intervenção nas eleições norte-americanas.
VISÃO ALTERNATIVA DE MACRON
Ao oferecer uma visão alternativa quando foi sua vez no púlpito, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse aos delegados da ONU que a lei da sobrevivência do mais forte, o protecionismo e o isolacionismo apenas levariam ao aumento das tensões.
Defendendo o multilateralismo e a ação coletiva, Macron alertou que o nacionalismo levaria ao fracasso e que se países pararem de defender princípios básicos, as guerras globais poderiam voltar.
"Eu não aceito a erosão do multilateralismo e não aceito a nossa história se desdobrando", disse Macron à assembleia, por vezes levantando seu tom de voz. "Nossas crianças estão assistindo."
Macron, citando o exemplo do Irã, disse que essa tendência ao unilateralismo levaria diretamente a conflitos.
Trump, que começa seus comícios políticos se gabando de seu histórico econômico em menos de dois anos de governo, usou a mesma retórica diante do público de líderes mundiais e diplomatas, dizendo a eles que conseguiu mais do que qualquer outro presidente norte-americano no passado.
A afirmação provocou risos e murmúrios do público, o que surpreendeu o mandatário norte-americano.
"Eu não esperava essa reação, mas tudo bem", disse.