Por Aluísio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A Caixa Econômica Federal não contempla vender ativos nem receber aporte do governo federal para ajudá-la a melhorar seus níveis de capital, mesmo após o resultado de 2016 ter trazido nova queda do lucro, disse nesta terça-feira o presidente-executivo do banco estatal, Gilberto Occhi.
"Depois de vários anos de crescimento acelerado, nosso foco agora é na melhora da eficiência e da rentabilidade", disse Occhi a jornalistas.
Mais cedo, a Caixa divulgou que teve lucro líquido de 4,14 bilhões de reais no ano passado, queda de 41,8 por cento ante 2015. No quarto trimestre, o lucro subiu 11,2 por cento ante igual período do ano anterior, a 691 milhões de reais.
Por um lado, o banco voltou a mostrar expansão do crédito em nível acima da média do mercado. No fim de 2016, a carteira de empréstimos da Caixa era de 709,3 bilhões de reais, alta de 4,4 por cento em 12 meses.
No entanto, a instituição teve despesas com provisões para calotes de 4,94 bilhões de reais de outubro a dezembro, um salto de 25 por cento ante mesma etapa do ano anterior.
Com isso, a rentabilidade média sobre o patrimônio líquido, indicador que mostra como um banco remunera o capital do acionista, ficou em 6,57 por cento no período. Na mesma etapa de 2015, esse indicador tinha sido de 11,4 por cento.
Segundo Occhi, esses números refletem a decisão de anos atrás do banco de crescer aceleradamente, tomando espaço de rivais privados, que preferiram reduzir o ritmo diante de um cenário da economia brasileira em desaceleração.
Sem novas injeções de recursos federais para apoiar o crescimento e gerando lucro em nível insuficiente para reforçar o capital, a Caixa viu seu índice de Basileia voltar a cair. Em dezembro, o índice era de 13,54 por cento, queda de 0,9 ponto percentual sobre um ano antes.
Occhi voltou a descartar a hipótese de receber aporte de recursos do governo federal, controlador do banco. Disse ainda que a Caixa não trabalha com o cenário de receber recursos extras com a venda de participação em algum dos negócios.
Em fevereiro, a Reuters publicou que a Caixa desistiu de realizar em 2017 a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Caixa Seguridade, uma das mais aguardadas do mercado brasileiro nos últimos meses.
A venda de participação na Lotex, divisão de loterias instantâneas, também não está no radar agora, disse ele, assim como de fatias de empresas que estão sendo constituídas, a Habitar, especializada em serviços de financiamento imobiliário, e a divisão de cartões, ainda sem nome.
"Lá atrás a sanfona se abriu, agora estamos num novo ciclo em que o foco é a melhora da eficiência e da rentabilidade", disse Occhi, sem no entanto divulgar metas.
Entre os focos daqui em diante, segundo o executivo, estão expandir os empréstimo de melhor qualidade e elevar as receitas com tarifas, assim como já fazem os rivais privados.
Nesse aspecto, Occhi afirmou que indicadores preliminares já apontam melhora dos resultados operacionais do banco em relação a 2016, mas não deu detalhes.
A Caixa fechou o ano passado com índice de inadimplência acima de 90 dias de 2,88 por cento, queda de 0,67 ponto sobre o fim de 2015.
O executivo disse também que a Caixa vai começar uma campanha agressiva de recuperação de créditos em atraso. A declaração vem após o banco ter sido proibido pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no ano passado de continuar vendendo créditos vencidos no mercado, devido a irregularidades no processo.
Como medidas adicionais para melhorar a eficiência, a Caixa deve fechar de 100 a 120 agências neste ano, além de economizar cerca de 1 bilhão de reais após aproximadamente 5 mil empregados terem aderido a um programa de aposentadoria incentivada, disse Occhi.
(Com reportagem adicional de Gabriela Mello)