Débora Ely
PORTO ALEGRE, 11 Jan (Reuters) - A Meta (NASDAQ:META) (BVMF:M1TA34), dona do Facebook, se manteve em silêncio nesta quarta-feira sobre publicação do ex-presidente Jair Bolsonaro na rede social em que disseminou alegações falsas sobre o resultado das eleições de 2022.
A publicação foi feita na noite anterior na plataforma, e depois foi deletada. À Reuters, a assessoria de imprensa da Meta no Brasil disse que não comentaria “esse assunto específico no momento”.
Por volta das 22h, Bolsonaro compartilhou um vídeo no Facebook no qual Felipe Marcelo Gimenez, procurador do Estado do Mato Grosso do Sul, dizia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “não foi eleito pelo povo”, mas “escolhido e eleito pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”, o que é falso.
O ex-presidente compartilhou a alegação falsa apenas dois dias após seus apoiadores invadirem e depredarem os prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF, em Brasília para pedir um golpe contra Lula, insuflados pela desinformação de que houve fraude nas urnas eletrônicas.
Bolsonaro apagou o conteúdo no início desta madrugada, mas a postagem já havia reunido mais de 48 mil visualizações antes de ser excluída, segundo dados da ferramenta de monitoramento CrowdTangle. A Procuradoria-Geral do Estado do Mato Grosso do Sul anunciou a abertura de uma investigação sobre a conduta de Gimenez.
Após a invasão ao Capitólio, sede do Congresso dos EUA, em 6 de janeiro de 2021, a Meta decidiu suspender o então presidente norte-americano, Donald Trump, do Facebook e do Instagram após ele postar um vídeo no qual pedia para as pessoas “irem para casa”, mas repetia que a eleição que ele perdeu para o presidente Joe Biden havia sido fraudada.
Ao contrário de Bolsonaro, o conteúdo foi mantido por Trump e deletado pela plataforma. Twitter e YouTube também bloquearam Trump.
PERFIL DESATUALIZADO
Além de usar desinformação para atacar o processo eleitoral, Bolsonaro ainda se apresenta como “presidente da República Federativa do Brasil” e “candidato à reeleição” em seus perfis no Facebook, Instagram e Twitter, em uma conduta interpretada por bolsonaristas como um indício de que estaria próximo de retornar ao cargo.
A Meta também não informou se a descrição infringe suas diretrizes de “autenticidade de identidade”. Segundo as políticas da plataforma em inglês, a empresa restringe ou desabilita contas que “deturpem sua identidade para enganar ou iludir outras pessoas” e que incluam “informações de perfil enganosas, como detalhes da biografia e localização do perfil”. Este trecho, contudo, não consta na versão das normas em português brasileiro. Questionada sobre a diferença, a empresa ainda não se manifestou.
Já o Twitter diz em suas regras que "não é permitido assumir a identidade de pessoas, grupos ou organizações com a intenção de iludir, confundir ou induzir ao erro outras pessoas, nem usar identidade falsa”. A Reuters não conseguiu contato com a empresa, pois a plataforma não tem mais uma assessoria de imprensa no Brasil.
O ex-presidente continua compartilhando nas plataformas publicações sobre ações de seu governo usando verbos no presente, o que também tem estimulado seus apoiadores.
Após o vandalismo em Brasília, a Meta afirmou que “antes mesmo das eleições, designamos o Brasil como um local temporário de alto risco e passamos a remover conteúdos que incentivam as pessoas a pegar em armas ou a invadir o Congresso, o Palácio do Planalto e outros prédios públicos”.
Segundo a empresa, “no domingo, também designamos este ato como um evento violador, o que significa que removeremos conteúdos que apoiam ou exaltam essas ações. Estamos colaborando com as autoridades brasileiras e continuaremos removendo conteúdos que violam nossas políticas.”
A Reuters é parceira do programa de checagem de fatos da Meta no Brasil.