Por Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - O frigorífico brasileiro Minerva (SA:BEEF3) afirmou nesta segunda-feira que planeja realizar a oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de sua subsidiária Athena Foods em abril de 2020, apesar das turbulências políticas na Argentina, onde a divisão obtém cerca de 30% de suas vendas líquidas.
De acordo com diretores da empresa, a incerteza relacionada à política econômica argentina após a eleição de um novo governo, inclinado para a esquerda, será fundamental para determinar o futuro da transação, cujas expectativas originais apontavam para a possibilidade de movimentação de até 1,3 bilhão de reais.
"Se a aversão ao risco continuar alta (na Argentina), pode inviabilizar o IPO", ponderou o diretor financeiro da Minerva, Edison Ticle, em entrevista coletiva.
João Sampaio, diretor de Relações Institucionais da Minerva, afirmou que conversas com autoridades do futuro governo argentino sugerem que os exportadores não têm motivos para se preocupar.
"Eles sabem que a situação interna é difícil mas precisam trazer dólares. O jeito de fazer isso é exportando", disse.
A retomada do plano de IPO da Athena, abandonado após a guerra comercial entre Estados Unidos e China desanimar investidores e reduzir as avaliações para o negócio no último mês de maio, em parte reflete as perspectivas positivas de operação para os frigoríficos brasileiros. Com diversas novas plantas aprovadas para exportações à China, as empresas locais estão entre as maiores beneficiadas pelas crescentes importações chinesas de alimentos.
"Todas as previsões foram superadas", disse o presidente-executivo da companhia, Fernando de Queiroz, referindo-se às vendas, margens e ao objetivo de redução da dívida da empresa, anunciado antes mesmo das expectativas de precificação do IPO.
De antemão, um importante objetivo do IPO seria ajudar a desalavancar a Minerva, mas a meta agora é liberar valor e financiar a expansão das operações sul-americanas, afirmou Ticle.
A Athena, que também opera no Uruguai, Paraguai, Colômbia e Chile, é uma importante produtora e exportadora sul-americana de carne bovina in natura e de produtos derivados de carnes, sendo responsável por 12% das exportações de carne bovina do continente, de acordo com dados da Minerva.
Na Colômbia, que ainda não vende carne bovina à China, a Minerva disse que irá crescer através de aquisições, visando explorar novas oportunidades de mercado.
A respeito das vendas de carnes à China, a Minerva expressou otimismo, uma vez que a proteína bovina tem se tornado uma substituta da carne de porco, especialmente para consumidores mais abastados.
A Minerva também vê as perspectivas de comércio melhorando ainda mais caso a China concorde em reduzir ou remover uma tarifa de importação de 24% sobre as carnes sul-americanas, movimento que visa conter a inflação doméstica de alimentos.
O assunto foi discutido durante uma visita do presidente Jair Bolsonaro à China, disseram executivos da Minerva. Queiroz indicou que algumas importadoras estatais chinesas já teriam sido isentadas das taxas.