SÃO PAULO (Reuters) - A Minerva (BVMF:BEEF3) vê algum problema de curto prazo com o caso atípico de "mal da vaca louca" no Brasil, que resultou em um embargo para exportação de carne bovina brasileira à China, mas considera que o cenário para a companhia é positivo nos próximos trimestres, com expectativa de alta de até 15% nos volumes em 2023, disse o diretor financeiro da empresa, Edison Ticle, nesta sexta-feira.
"Ainda que no curto prazo tenha algum problema no Brasil em função de caso atípico de BSE (siga em inglês para Encefalopatia Espongiforme Bovina), se olhar para o horizonte de dois a três trimestres a situação é muito positiva", disse ele durante apresentação de resultados trimestrais.
Segundo Ticle, esse cenário positivo se dá pela restrição na oferta de carne bovina dos Estados Unidos, enquanto no Brasil a disponibilidade de animais prontos para abate é maior para o biênio 2023/24, com um novo ciclo pecuário.
"Mesmo com a restrição do Brasil (para exportar à China), quero lembrar que o 'footprint' diversificado nos permite atender a China através de operações em outros países como Argentina e Uruguai", disse ele, reiterando a estratégia da empresa para minimizar o problema sanitário que aflige o setor.
A Minerva registrou prejuízo líquido de 25,7 milhões de reais no quarto trimestre de 2022, em meio a um desaceleração de preços e volumes no mercado chinês, o que impactou o período, especialmente em outubro e novembro. Agora a companhia vê o processo de retomada na China ganhando força semana a semana após o fim da medidas restritivas relacionadas à pandemia.
A companhia, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, com 20% de "market share", obteve na Ásia cerca de 50% das receitas de exportações em 2022, com a China respondendo por 43% total, segundo apresentação nesta sexta-feira.
Considerando o tamanho da China para a companhia, o executivo admitiu impacto nas receitas e margens decorrente do problema sanitário no Brasil, mas disse também que há um efeito positivo em preços com a ausência momentânea do país para o mercado chinês, algo que pode ser capturado especialmente por três operações uruguaias da companhia, além da Argentina.
"Estamos vendo os preço subindo, portanto as exportações de Uruguai e Argentina devem ser rentabilizadas", disse o CFO.
Olhando o cenário global, com a retomada da maior demanda da China e a queda na oferta de carne bovina dos Estados Unidos, estimada em 10% pelo governo norte-americano, o executivo da Minerva vê boas oportunidades para a companhia, especialmente após a resolução dos desdobramentos do problema sanitário no maior exportador global de carne bovina.
Ele disse que há possibilidade de a empresa aumentar seus volumes entre 10% e 15% neste ano, e considera que os preços de maneira geral seguirão firmes, "flats" (estáveis) em um cenário "conservador".
Os problemas que afetaram a empresa no quarto trimestre, incluindo menores abates em regiões do Mercosul, foram "conjunturais", que deverão ser superados ao longo do ano, acrescentou.
REABERTURA DA CHINA
Também participando da teleconferência, o CEO da companhia, Fernando Queiroz, disse esperar para a semana que vem o resultado da contraprova de um laboratório de referência no Canadá que deverá confirmar que o caso de "mal da vaca louca" no Pará é atípico, ou seja, ocorreu de forma espontânea em um animal mais velho, sem riscos para a cadeia produtiva e consumidores.
A partir daí, ficaria mais fácil de a China reabrir compras do Brasil, que tem um protocolo de "autoembargo" com os chineses quando há ocorrência sanitárias do gênero.
Queiroz disse não esperar "grande impacto nas exportações" do embargo, especialmente por considerar que o governo brasileiro está priorizando o tema, que deve ser discutido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com seu colega chinês, Xi Jinping, em viagem do brasileiro à China no final do próximo mês.
Queiroz ainda citou boas perspectivas de abertura do México à carne brasileira, citando informações publicadas na imprensa.
(Reportagem de Roberto Samora)