Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A Mitsui anunciou nesta quarta-feira a criação de uma joint venture com a brasileira Geo para construção e operação de plantas de produção de biogás e biometano no Brasil, em parceria que visa diversificar o fornecimento doméstico de gás com alternativas renováveis.
Batizada de GeoMit, a nova empresa utilizará resíduos orgânicos da cana-de-açúcar, como a vinhaça, para a produção de gases renováveis que despontam como substitutos do gás natural (fóssil) no processo de transição energética.
Esses insumos serão garantidos por meio de parcerias com produtores da biomassa, matéria-prima que tem atraído cada vez mais investidores à medida que empresas buscam sistemas produtivos e geração de energia menos poluentes. O Brasil é o maior produtor global de cana-de-açúcar, e o Estado de São Paulo, principal consumidor de energia no país, é também líder no setor sucroalcooleiro.
O valor de investimentos do acordo não foi revelado, mas "haverá uma quantidade relevante de recursos" para o setor, disseram as empresas à Reuters, ressaltando que a parceria é considerada "estratégica e de longo prazo, com modelo de negócios e expertise tecnológica próprios".
Mitsui e Geo também afirmaram que têm interesse em criar "sinergias futuras" com as atividades na cadeia de valor de energia verde envolvendo outras soluções, como combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), e-metanol, amônia verde e hidrogênio verde.
As empresas não comentaram estimativas de volume de produção ou localização das plantas, mas apontaram que as unidades ficarão próximas de centros de consumo.
"A GeoMit ainda está analisando os projetos potenciais conforme sua competitividade de preços, geografia, logística, demanda localizada de gás e ambiente de recursos sustentáveis."
O acordo envolve a Mitsui Gás, braço do grupo japonês que atua na distribuição de gás natural no Brasil como acionista direto e indireto de 13 concessionárias, e a Geo bio gas&carbon, uma provedora de tecnologias para produção de hidrocarbonetos verdes.
"A colaboração entre a vasta experiência da Mitsui Gás em distribuição de gás e a tecnologia de produção de biogás e a experiência operacional em plantas da Geo... garantem a geração e fornecimento confiável de gás renovável durante todo o ano", disseram as empresas.
A joint venture será um negócio autônomo e sem relação direta com a atual operação da Mitsui Gás, segundo a empresa. "Nosso alvo são os clientes que estão localizados em regiões isoladas dos gasodutos existentes e têm demanda sustentável de gás durante todo o ano", explicou.
A Geo já investiu 450 milhões de reais em biogás e tem hoje quatro plantas operacionais nos Estados do Paraná e São Paulo. A empresa, que detém processo proprietário único para produção do combustível, tem parcerias com companhias sucroalcooleiras como Raízen (BVMF:RAIZ4) e Cocal --no projeto da Cocal, o biometano é distribuído a clientes do interior paulista em parceria com a GasBrasiliano.
O negócio assinado entre as empresas ocorre em meio à aposta de empreendedores no potencial ainda subexplorado do agronegócio brasileiro para projetos de biogás e biometano de grande escala.
Nesta quarta-feira, a Atvos, uma das maiores processadoras de cana-de-açúcar do Brasil, anunciou investimentos de 350 milhões de reais na construção de sua primeira unidade de biometano no Mato Grosso do Sul.
O segmento vem atraindo ainda empresas como a Orizon (BVMF:ORVR3), de valorização de resíduos em aterros sanitários, que também fornecem biomassa para produção de biogás; e elétricas como a Energisa (BVMF:ENGI11), que buscam fornecer soluções energéticas sustentáveis a seu portfólio de clientes.
(Por Letícia Fucuchima)