Por Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - O próximo ministro da Agricultura do Brasil planeja transformar a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em um órgão semelhante ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, disse ele à Reuters por telefone, nesta sexta-feira.
Carlos Fávaro, que assumirá o cargo na segunda-feira, também disse que o governo vai voltar a fazer estoques de alimentos básicos como milho, arroz e feijão para ajudar no combate à fome no Brasil, um grande exportador de alimentos, usando a Conab como meio para executar essa política.
Fávaro disse que a reformulação da Conab é uma prioridade. Isso significa transformá-la em "uma agência de informações" que divulgará dados cruciais para orientar os agentes do mercado e as ações do governo daqui para frente.
Em um curto período de tempo, disse ele, a Conab começará a divulgar relatórios sobre estoques de safras e vendas antecipadas --informações que atualmente ela não produz. Além disso, passará a dispor de dados mais detalhados sobre exportações e previsões climáticas.
Atualmente, os relatórios da Conab são de previsão de safra apenas. Mas é importante para a agroindústria saber quanto está comercializado e quanto será exportado, disse o futuro ministro.
"Quando as empresas nacionais ficam sem esta informação... elas vão perceber só lá na entressafra que o milho disponível já não é mais suficiente."
Sobre o plano de retomada dos estoques de milho, arroz e feijão, Fávaro destacou que as reservas do governo estão em níveis baixíssimos --referindo-se especialmente ao arroz--, o que representa uma ameaça à segurança alimentar.
"É vergonhoso o Brasil ser recordista na produção de alimentos e ter gente na fila do ossinho, gente passando fome."
Aumentar os estoques de alimentos do governo, apoiar a comercialização e melhorar a infraestrutura de transporte do Brasil são outras iniciativas do futuro governo que também ajudarão a agroindústria em tempos de possível escassez de suprimentos, acrescentou.
O Brasil é um grande produtor de commodities como soja e milho, mas também consome grande quantidades internamente.
Pelo plano de Fávaro, o novo governo também conseguirá ao menos dobrar o orçamento da Embrapa, agência de pesquisa agrícola, a partir de 2023.
Ele disse que as entre as prioridades de pesquisa da Embrapa estarão o desenvolvimento de tecnologias para reduzir as emissões de carbono nas fazendas e desenvolvimento de fertilizantes alternativos, o que poderia reduzir a dependência brasileira de importação de adubo.
(Reportagem de Ana Mano)