O Ibovespa renova mínimas e acentua a queda apesar do recuo moderado dos índices futuros de ações em Nova York. Uma somatória de questões, sobretudo internas, deixa os investidores na defensiva. O fato de ser sexta-feira também contribui. Por aqui, há incertezas fiscais, dúvidas com a política de preços da Petrobras (BVMF:PETR4), decisão do Copom e expectativa crescente a divulgação de balanços de bancos em meio ao "caso Americanas."
O exterior vê a volta da China após o feriado desta semana e a definição dos juros dos EUA. "O mercado quer ver como o Fed irá se posicionar quanto aos juros à frente. Por mais que o PIB tenha agradado, não afetará a decisão da semana que vem de alta de 0,25 pp nos juros. Será preciso ver mais dados semana que vem tem payroll. A agenda é cheia", diz Gustavo Neves, especialista em renda variável da Blue3.
Segundo Neves, a falta de direcionamento do governo ao que de fato fará para deixar as contas públicas saudáveis eleva a insegurança. O arcabouço fiscal só deve sair em abril, não sabemos como será a política de preços da Petrobras e a arrecadação se haverá reposição das perdas com ICMS", diz o especialista em renda variável da Blue3.
Nesta sexta-feira, 27, uma das grandes esperas era a divulgação do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês). O indicador avançou 0,1% em dezembro do ano passado nos Estados Unidos, na comparação com o mês anterior. Na comparação anual, a alta foi de 5,0%. Já o núcleo do PCE, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, teve crescimento de 0,3% em dezembro ante novembro, com alta de 4,4% ante dezembro do ano anterior. Os dois resultados do núcleo vieram em linha com a previsão dos analistas.
No geral, avalia Rodrigo Jolig, CIO da Alphatree Capital, os resultados da inflação americana vieram dentro do previsto, sugerindo que o preços estão perdendo força. "Nesta semana, o mercado gostou da indicação do BC do Canadá, de que pode parar de subir os juros. Talvez o Fed faça a mesma coisa e isso tem motivado esse rali da bolsa NY nos últimos dias. Mas é bom lembrar que o core núcleo da inflação ainda está alto", pondera. Para o encontro do Fed da semana que vem, a estimativa do mercado é de alta de 0,25 ponto porcentual.
Jolig ainda afirmou que a entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao jornal Valor Econômico, também pode, em parte, ser bem vista. "A fala do Haddad prevendo uma reforma tributária neutra, sem aumento da carga, é boa, mas temos de esperar para ver se de fato acontecerá assim. Há muitas incertezas fiscais. Não sabemos se as perdas de receitas com ICMS serão repostas", acrescenta.
Por isso, hoje os investidores monitoram o encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com governadores para tentar encontrar soluções para elevar a arrecadação. Mais cedo, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), afirmou que a reforma tributária deve ser um tema abordado na reunião. Contudo, antes da discussão, ele sugere que seja analisada a receita dos diversos Estados.
No exterior, o petróleo avança. Enquanto as negociações em Dalian seguem fechadas devido ao feriado do Ano Novo chinês, o minério de ferro em Cingapura subiu 0,76%. As valorizações não estimulam ganhos das ações de empresas dos respectivos setores no Ibovespa, dado cenário de aversão a risco.
No casa da Petrobras, o mercado espera a reunião do novo presidente da estatal, Jean Paul Prates, cujo conselho aprovou ontem seu nome por unanimidade para a assumir a diretoria da empresa, com sindicatos de petroleiros do País. O setor deve cobrar o fim da política de preços de paridade de importação (PPI) e das privatizações.
Às 11h35 desta sexta, o Ibovespa caía 1,13%, aos 112.887,35 pontos, após ceder 112.829,75 pontos, na mínima diária, e depois de abrir aos 112.178,21 pontos.