Rodrigo Zuleta.
Berlim, 19 jun (EFE).- O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, recorreu nesta quarta-feira à força da história para enfrentar os desafios do presente, durante discurso que foi aplaudido por um público de oito mil pessoas em Berlim.
"Me sinto tão bem aqui que vou até tirar o paletó. Estamos entre amigos e podemos ser informais", disse Obama ao iniciar seu discurso em frente ao Portão de Brandeburgo, no dia mais quente do ano em Berlim.
A chanceler alemã, Angela Merkel, e o prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, falaram para o público antes de Obama, e lembraram da "amizade" germânico-americana durante a Guerra Fria.
A evocação do passado - e de episódios como o do abastecimento aéreo de Berlim por parte dos americanos durante o bloqueio soviético - serviu para ressaltar os profundos vínculos existentes entre os dois países, em uma visita precedida por divergências em alguns assuntos referentes à política atual.
As pessoas que compareceram ao ato tiveram que esperar três horas para escutar Obama. Mas no momento em que o americano começou a falar, a maioria pareceu esquecer a longa espera em meio ao calor.
Por razões de segurança, o público foi restrito e também não era permitido entrar com garrafas na área em que o discurso foi realizado.
Todos - muitos com bandeiras dos Estados Unidos - esperavam de Obama um discurso histórico, como o que John F. Kennedy fez há 50 anos, após a inauguração do muro de Berlim, ou semelhante ao de Ronald Reagan, em 1987, quando pediu a Mikhail Gorbachev a derrubada do muro.
Obama parecia saber das expectativas do público e lembrou o discurso de Kennedy, realizado em frente à prefeitura de Schöneberg, e a célebre frase "Ich bin ein Berliner" ("Eu sou um berlinense") pronunciada pelo então presidente.
"Sua declaração de solidariedade - "ich bin ein Berliner"- é algo que atravessa as barreiras do tempo", disse Obama, que recebeu aplausos ao repetir a frase de Kennedy em alemão.
Obama acrescentou que Kennedy também pediu aos berlinenses que levantassem os olhos para ver além dos perigos do momento e "contemplar o dia em que haverá paz e justiça para toda a humanidade".
A memória dessas palavras de Kennedy, segundo Obama, obrigam a recorrer ao seu legado, já que os objetivos do antigo presidente - embora o muro de Berlim e a Guerra Fria já façam parte do passado - ainda não constituem a realidade de toda a humanidade.
"O muro já entrou para a história, mas nós temos que continuar a fazê-la", ressaltou Obama.
"Os heróis que nos precederam nos estimulam a manter vivos seus ideais; a nos preocuparmos com aqueles que não conseguem emprego em seus países e com as crianças que não podem ir à escola; a estar atentos para garantir nossa própria liberdade, e também para ajudar aqueles que lutam para alcançá-la", afirmou.
Merkel, segundo informou a Chancelaria alemã, escolheu um disco de vinil com a gravação do discurso de Kennedy como presente de boas-vindas para Obama.
O presidente americano foi o primeiro de seu país a discursar em frente ao Portão de Brandeburgo depois da queda do muro de Berlim.
Apesar de ter sido o primeiro discurso de Obama em Berlim como presidente, essa foi a segunda vez em que falou em público na capital alemã.
Em 2008, como candidato presidencial, ele fez declarações em frente ao Obelisco da Vitória, perante 200 mil pessoas, em um momento em que representava, para muitos alemães, a esperança de uma mudança das relações entre EUA e Europa.
Das expectativas dos alemães em relação ao governo de Obama, muitas não se cumpriram, como o fechamento da prisão de Guantánamo. Hoje, Obama reiterou que quer fechar essa penitenciária e fazer mais pelo meio ambiente. EFE
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