SÃO PAULO, 3 Jul (Reuters) - A operadora de telecomunicações Oi afirmou nesta quinta-feira que não foi informada pela Portugal Telecom sobre o investimento na dívida da Rio Forte Investiments, acrescentando que tomará medidas para defender seus interesses.
Em fato relevante, a Oi afirmou ter solicitado esclarecimentos adicionais à Portugal Telecom.
A companhia brasileira está em processo de fusão com a Portugal Telecom e o valor de suas ações vinha recuando até esta quinta-feira. O recuo foi motivado pela revelação de que a empresa portuguesa comprou 897 milhões de euros em notas promissórias da Rio Forte, que faz parte do Grupo Espírito Santo, cujo Banco Espírito Santo é o maior acionista da operadora europeia.
Segundo a Oi, o investimento da parceira portuguesa, que corresponde a cerca de 40 por cento da posição de caixa da Portugal Telecom, foi feito antes da subscrição e integralização do capital da Oi pela empresa europeia.
"A Oi não foi informada, nem participou das decisões que levaram à realização das aplicações de recursos em questão", disse a operadora. "A Oi já solicitou esclarecimentos adicionais à Portugal Telecom, analisará as informações recebidas e tomará as medidas necessárias à defesa de seus interesses", afirma a empresa no comunicado ao mercado, sem esclarecer quais medidas tomará.
O jornal Valor Econômico, citando uma fonte próxima às empresas, publicou nesta quinta-feira que os sócios da Oi e da Portugal Telecom "deverão rediscutir a relação de troca de ações entre as duas operadoras caso a Rioforte não honre pagamentos à PT (Portugal Telecom)".
Procurada, a Oi afirmou apenas que vai se manifestar sobre o assunto por meio do fato relevante divulgado ao mercado nesta quinta-feira.
"Creio que a Oi vai ter dificuldade para renegociar os termos da fusão uma vez que Zeinal Bava foi presidente-executivo da Portugal Telecom antes da Oi (...) Não estou muito preocupado com as implicações aos termos da fusão", disse Allan Nichols, analista sênior da Morningstar Equity Research, em Lisboa.
"Oi e Portugal Telecom precisam muito uma da outra do ponto de vista da posição de mercado delas, dos balanços financeiros e de tecnologia", acrescentou.
As ações da Oi exibiam alta de quase 3 por cento no início dos negócios desta quinta-feira, em meio a expectativas sobre eventual renegociação de termos da fusão. Enquanto isso, os papéis da Portugal Telecom caíam 1,05 por cento, em Lisboa.
A Oi previa assembleia de acionistas para entre setembro e outubro sobre a série de operações envolvidas no contexto para fusão com a Portugal Telecom. Entre estas operações está a incorporação das ações da operadora portuguesa no grupo brasileiro.
A Portugal Telecom confirmou na semana passada que investiu em notas promissórias da Rioforte, do Grupo Espírito Santo, depois de denúncias publicadas pela imprensa portuguesa sobre o investimento na Rio Forte, que passa por dificuldades financeiras.
A holding acima da Rio Forte, a Espírito Santo International Rioforte, está sendo investigada por irregularidades e tem uma situação de capital fortemente negativa.
No comunicado desta quinta-feira, a Oi afirma que a Portugal Telecom informou que o investimento na Rioforte tem remuneração média anual de 3,6 por cento e que todas as aplicações de tesouraria em papel comercial da Rioforte atualmente em carteira têm vencimento em 15 e 17 de julho deste ano. A maior parte vence dia 15, num total de 847 milhões de euros.
"Portugal Telecom e Espírito Santo têm participações cruzadas há anos, não é surpresa que tenham acordos como este. Companhias sempre compram papéis umas das outras, na Europa e em outras partes", disse Nichols, da Morningstar. "Eu ficaria realmente surpreso se isso não for pago."
Além desses recursos, a exposição da Portugal Telecom no Grupo Espírito Santo ainda inclui depósitos bancários num total de 128 milhões de euros, segundo informou a empresa europeia à Oi.
(Por Roberta Vilas Boas, com reportagem adicional de Andrei Khalip, em Lisboa)