Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A onda de calor que atinge o Brasil pode fazer com que os preços da energia elétrica no mercado de curto prazo saiam do piso regulatório de cerca de 69 reais por megawatt-hora (MWh) e alcancem picos de até 600 reais/MWh em determinadas horas do dia, afirmam empresas e especialistas do setor.
Com o recorde de 100 GW de carga registrado no Brasil devido às altas temperaturas, a referência de preços para as negociações do mercado de curto prazo de energia (PLD) saiu do piso regulatório de 69,04 reais/MWh na segunda-feira, chegando a atingir 234,88 reais/MWh.
"Mais para o final do dia você vê o descolamento do preço-base (do piso)... É uma volatilidade em razão dos despachos das fontes (pelo operador nacional do sistema)", explicou Pedro Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Grande parte da carga de energia no Brasil é atendida por fontes renováveis, especialmente pelas hidrelétricas. Mas com o consumo elevado, o ONS tem acionado termelétricas para reforçar o atendimento aos consumidores no período da tarde, quando a carga segue elevada e a geração solar começa a recuar.
O PLD, que vinha se situando nos níveis mínimos regulatórios desde setembro do ano passado, descolou do piso algumas vezes nos últimos meses, refletindo momentos de consumo de energia mais alto e menos disponibilidade de geração, com parada da usina nuclear Angra 2 e menor produção de energia eólica no Nordeste.
Segundo a comercializadora Stima Energia, o PLD horário apresentou seu primeiro pico em setembro, atingindo 620,95 reais/MWh, e em outubro saiu do piso durante seis dias.
A Stima prevê que em novembro, com a nova onda de calor, o preço spot possa atingir até 600 reais/MWh em horas de pico do dia.
Na média diária, no entanto, o preço "dificilmente" chegaria a este valor tão alto, disse a comercializadora, lembrando que os reservatórios das hidrelétricas estão em situação confortável, entrando no período úmido com mais de 66% da capacidade no principal subsistema.
MERCADO DE COMERCIALIZAÇÃO
A maior volatilidade de preços não vinha sendo precificada pelo mercado, disseram na semana passada executivos da Eletrobras (BVMF:ELET3), que vem acompanhando de perto o tema devido à grande necessidade de contratação de energia de seu portfólio.
Segundo a Stima, esse cenário recente tem levado a uma maior busca por contratos futuros no mercado de comercialização.
"A recente recorrência de despacho térmico nos período de ponta para atender picos de demanda tem gerado maior incerteza no preço da energia e com isto tem aumentado a busca por contratos futuros para contratar a energia a preço fixo, reduzindo exposições a variações de preço", afirmou Daniela Alcaro, sócia da Stima.
Para o fim do ano, apesar das variações intraday, a expectativa é que os preços sigam em patamares baixos, tanto no curto quanto no médio e longo prazos, refletindo as condições hidrológicas favoráveis e o cenário de sobreoferta estrutural no país, com grande entrada em operação de novas usinas, especialmente eólicas e solares.
"Com os altos níveis dos reservatórios, o PLD deve manter-se no piso na grande maioria dos dias até o final do ano", avaliou a executiva da Stima.
"Mesmo com essa temperatura atípica, o preço médio do mês de setembro foi para 74 reais/MWh... Tem alguns picos, em alguns horários do dia, mas na média... o cenário de sobreoferta é ainda muito grande", disse o CEO da CPFL Energia (BVMF:CPFE3), Gustavo Estrella.
Para Estrella, faltam elementos que possam apoiar uma tendência de preços mais altos e de crescimento mais sustentado da carga nacional de energia, já que o ritmo da atividade econômica segue moderado.
(Por Letícia Fucuchima)