Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Michel Temer adotou um tom conciliador em seu pronunciamento depois da decisão da Câmara dos Deputados de rejeitar o prosseguimento da denúncia por corrupção contra ele, mas ressaltou o que chamou de decisão "clara e incontestável" dos deputados e afirmou que seguirá com as reformas.
"A decisão soberana do Parlamento não é uma vitória pessoal de quem quer que seja, mas é uma conquista do Estado de Direito, da força das instituições e da Constituição", defendeu o presidente.
A Câmara rejeitou a denúncia por 263 votos pelo arquivamento e 227 favoráveis à autorização para que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgasse a acusação contra o presidente.
O número ficou dentro dos prognósticos do Palácio do Planalto, que calculava entre 260 e 280 votos. Aliados de Temer na Câmara, no entanto, chegaram a apostar em um apoio maior, caso do vice-líder do governo, Beto Mansur (PRB-SP), que antes da votação afirmou esperar cerca de 300 votos pró-Temer.
A conta dos contrários ao presidente, no entanto, ficou acima do esperado. A expectativa era de que a oposição chegasse a no máximo 210 votos.
Temer aproveitou o pronunciamento para reforçar que agora irá seguir com as reformas necessárias, mas citou apenas, neste momento, a tributária.
"Diante dessa eloquente decisão, agora seguiremos em frente com as ações necessárias para concluir o trabalho que meu governo começou há pouco mais de um ano", afirmou, acrescentando que terminará a "maior transformação feita no país".
Este foi o primeiro pronunciamento desde a apresentação da denúncia pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em que o presidente não atacou o procurador, de forma velada ou explícita. Ao contrário, adotou um tom conciliador.
"Aqueles que tentam dividir os brasileiros erram. Todos nós somos brasileiros. Filhos da mesma nação, detentores dos mesmos direitos e deveres", disse Temer. "Quero construir com cada brasileiro um país melhor, pacificado, justo, sem ódio ou rancor. Nosso destino inexorável é ser uma grande nação. É preciso acabar com os muros que nos separam e nos tornam menores".
Temer tratou de seu pronunciamento durante boa parte da manhã com auxiliares próximos. De acordo com uma fonte que discutiu o tema com o presidente, havia mais de uma alternativa para o texto, mas ambas apontariam para a intenção de tocar as reformas e ultrapassar a crise política. O tom, disse a fonte, seria definido pelo tamanho da vitória obtida pelo governo.
No Planalto, a avaliação foi de que, apesar das defecções, o resultado foi positivo e expressivo, mas mostra que o governo vai ter que trabalhar para tentar recuperar a base.