Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier e Fabio Teixeira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras (BVMF:PETR4) vai chamar fornecedores para perguntar por que fábricas no exterior "começam a atrasar" as entregas, enquanto as unidades industriais das mesmas empresas no Brasil estão ociosas, afirmou a presidente da petroleira estatal, Magda Chambriard, nesta quinta-feira.
A executiva disse que cobrará dos fornecedores o cumprimento de prazos na entrega de projetos e ressaltou ainda que a companhia considera governança e ética como "pilares essenciais" na relação com a indústria.
"Nós temos fornecimento em fábricas no exterior lotadas que estão se tornando gargalo, enquanto a mesma fábrica no Brasil encontra-se ociosa. Vamos perguntar o que está acontecendo", disse Chambriard, em discurso ao dar início à sétima edição do Prêmio Melhores Fornecedores, durante o congresso de petróleo e gás ROG.e.
Ela não mencionou em sua fala o chamado "custo Brasil", algo comumente expresso por empresários para falar das despesas presentes no país que afetam a produtividade e a eficiência da economia brasileira, que incluem questões ligadas a burocracias, tributos e infraestrutura.
Questionada pela Reuters se um chamado "custo Brasil" poderia ter a ver com a ociosidade de fábricas, Chambriard respondeu que "tem a ver com uma intenção passada, que não corresponde à nossa visão desse momento".
"Se vocês forem ver o governo passado, a intenção era vender a Petrobras e tornar a Petrobras uma pequena empresa independente, produtora de petróleo no pré-sal. Essa não faz parte da nossa visão... A nossa visão é de longo prazo, é de expansão de investimentos, é de atuar no Brasil como uma empresa que explora seus negócios lucrativos", completou.
No evento, 31 empresas serão premiadas em 34 categorias, seis delas para as que mais se destacaram nas iniciativas Ambiental, Social e Governança (ASG).
Aos fornecedores, na plateia, Chambriard afirmou que não basta apenas desenvolver soluções, "tem que chegar a tempo e à hora para não atrasar nossa produção".
"É inconcebível ter fábrica no exterior sendo gargalo... vamos rever isso de forma urgente."
Aos jornalistas, a executiva evitou citar nomes de fornecedores que teriam projetos em atraso e apontou confiança de que os prazos ainda podem ser cumpridos.
"Quando a gente sente algum tipo de refluxo, aí a gente vai lá e tenta mitigar. Temos aí um ou outro projeto que já está, vamos dizer assim, indo na direção de um atraso de meia dúzia de meses. Então nós estamos mitigando. Tenho certeza que vamos acertar", afirmou.
"De vez em quando, aparece uma tentativa de 'descarrilhamento', principalmente de plataformas, que são os que mais nos impactam, e aí a gente atua e mitiga."
A executiva tomou posse em maio, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter decidido retirar Jean Paul Prates do comando, em movimento que buscou acelerar projetos da companhia, além de reforçar o papel da empresa como impulsionadora de emprego e renda no país.
Parte das principais demandas de Lula está relacionada a uma busca por um aumento da contratação pela Petrobras de obras no Brasil, como em estaleiros.
GOVERNANÇA
Durante sua fala no evento, a executiva também brincou ao dizer que a transição energética na Petrobras tem o tamanho do diretor-executivo de Transição Energética e Sustentabilidade, Mauricio Tolmasquim, que tem a estatura alta.
Em contrapartida, ela disse que os cheques da Petrobras precisam ter o tamanho do diretor-executivo Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Fernando Melgarejo, que por sua vez tem a estatura mais baixa.
Chambriard também destacou em sua fala a importância da governança da Petrobras, citando o nome do diretor-executivo de Governança e Conformidade da companhia, Mário Spinelli.
"Sim, a governança existe e tem cara na Petrobras", afirmou.
Spinelli, em sua fala, disse que a empresa "não raramente" é acusada de ser rigorosa pelos fornecedores, mas defendeu que é um papel importante a ser desempenhado. O diretor disse que a companhia já avaliou 33 mil fornecedores quanto aos níveis de integridade e proteção de direitos humanos.
Segundo Spinelli, a companhia está agora em negociações com a Organização das Nações Unidas (ONU) para a criação de projeto que visa disseminar práticas de integridade e de proteção de pessoas em pequenos e médios fornecedores.
Também durante o evento, o diretor-executivo de Processos Industriais e Produtos da Petrobras, William França, disse que Chambriard tem "cobrado muito" nas atividades de downstream, diante dos projetos que virão, pois é preciso tomar conta das pessoas.
De acordo com França, nos próximos quatro anos, a petroleira prevê 2,5 bilhões de dólares em paradas programadas no refino.
(Por Marta Nogueira, Rodrigo Viga Gaier e Fábio Teixeira)