Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - A Petrobras registrou queda no lucro líquido no terceiro trimestre de 2014, para 3,087 bilhões de reais, segundo balanço não auditado divulgado na madrugada desta quarta-feira, em um anúncio que não incluiu nenhuma baixa contábil relacionada às denúncias de corrupção da Operação Lava Jato.
O lucro líquido da companhia entre julho e setembro de 2013 havia sido de 3,395 bilhões de reais. Na comparação com o segundo trimestre de 2014, houve queda de 38 por cento.
O balanço incluiu baixas contábeis de 2,7 bilhões de reais com a descontinuidade dos projetos das refinarias Premium I e II.
Os resultados, que deveriam ter sido conhecidos em novembro, tiveram sua publicação adiada após o auditor PricewaterhouseCoopers ter se recusado a aprovar as contas da petroleira devido às denúncias de corrupção envolvendo a estatal e algumas das maiores empreiteiras do Brasil. O suposto esquema incluiria pagamentos a políticos.
Segundo informações da Polícia Federal, de procuradores e dos delatores do caso, incluindo o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, executivos da estatal indicados por políticos conspiraram com empresas de engenharia e construção do país para sobrevalorizar refinarias, navios e outros bens e serviços.
"Concluímos ser impraticável a exata quantificação destes valores indevidamente reconhecidos, dado que os pagamentos foram efetuados por fornecedores externos e não podem ser rastreados nos registros contábeis da companhia", disse a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, em comentários publicados no balanço.
No balanço, a Petrobras diz que continua trabalhando para produzir demonstrações financeiras revisadas pela PricewaterhouseCoopers no menor tempo possível.
A empresa disse que tentou calcular as baixas contábeis em ativos envolvidos nas denúncias estimando a diferença entre o valor justo de cada ativo e seu valor contábil e também a quantificação do sobrepreço decorrente de atos ilícitos, usando informações, números e datas revelados nos depoimentos à Polícia Federal.
Cerca de um terço dos ativos da companhia, somando 188,4 bilhões de reais, passaram por avaliação.
"O resultado das avaliações indicou que os ativos com valor justo abaixo do imobilizado totalizaram 88,6 bilhões de reais de diferença a menor. Os ativos com valor justo superior totalizaram 27,2 bilhões de reais de diferença a maior frente ao imobilizado", informou a Petrobras.
No entanto, a companhia desistiu de usar essa metodologia "pois o ajuste seria composto de diversas parcelas de naturezas diferentes, impossível de serem quantificadas individualmente".
A empresa disse que vai estudar outra metodologia que tome por base valores, prazos e informações contidos nos depoimentos em conformidade com as exigências dos órgãos reguladores do Brasil e dos Estados Unidos (CVM e SEC).
BALANÇO DO TRIMESTRE
O resultado do terceiro trimestre foi impactado por uma queda no lucro operacional, que caiu para 4,6 bilhões de reais, ante 8,8 bilhões de reais no segundo trimestre.
A redução ocorreu, principalmente, por gastos com acordo coletivo de trabalho (1 bilhão de reais), pelo pagamento de acordo com a Bolívia para importação do gás natural (0,9 bilhão de reais) e pelas baixas nos ativos referente aos projetos das refinarias Premium I e II (2,7 bilhões).
Já a maior produção de petróleo, e consequente exportação agregaram 2,4 bilhões de reais ao resultado operacional do terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado, indicador do desempenho operacional, somou 11,735 bilhões de reais no terceiro trimestre, ante 13,091 bilhões no mesmo período de 2013.