SÃO PAULO (Reuters) - A montadora francesa Peugeot, do grupo PSA, definiu o segmento de comerciais leves como o principal pilar de atuação no Brasil e deve equiparar nos próximos cinco anos sua gama de automóveis no país em relação aos modelos que vende na Europa.
As apostas fazem parte da estratégia da marca de melhorar resultados no Brasil e sua percepção entre consumidores locais. O país é um dos cinco mercados prioritários da PSA, disse a jornalistas nesta quarta-feira o presidente mundial da Peugeot, Jean-Philippe Imparato.
"Volume (de vendas) não é nossa preocupação. Prefiro elevar minha imagem de marca... Não vamos mais cair na tentação de criar um carro pequeno desenvolvido especialmente para Brasil. Paramos de vender a qualquer preço", afirmou o executivo. Segundo ele, o "Brasil tem que entrar na convergência e ter a mesma gama de veículos (da Peugeot) que a Europa em cinco anos".
Atualmente, os maiores mercados de veículos para a Peugeot no mundo são Irã, França e China, disse Imparato. Ele evitou comentar metas de vendas para Brasil ou América Latina, mas disse que ao definir o Brasil como prioritário a Peugeot enxerga "grande potencial de desenvolvimento futuro da marca".
Segundo dados da associação de concessionários de veículos Fenabrave, a Peugeot vendeu no ano até setembro no Brasil 19.128 automóveis e comerciais leves, equivalentes a uma participação de mercado de 1,22 por cento, ante 7,79 por cento de sua rival também francesa Renault. A líder do mercado é a General Motors (NYSE:GM), com vendas acumuladas de 282,8 mil carros e comerciais leves, categoria que além de vans de tranporte de produtos e picapes inclui utilitários esportivos.
Como parte da renovação da marca no país, processo em andamento desde 2015, a Peugeot promoveu uma renovação de 60 por cento de seus grupos de concessionários, reduzindo o número de lojas da marca no país de 140 para as 106. Paralelamente, a montadora começou a ampliar o volume de modelos disponíveis no país, de olho nos SUVs premium e comerciais leves.
A Peugeot lançou em junho o SUV 3008 e, segundo a diretora-geral da Peugeot do Brasil, Ana Theresa Borsari, atualmente a fila de espera pelo modelo é de 4 meses. A filial brasileira importa o modelo produzido na França. "Tínhamos quota de 250 unidades, mas hoje temos demanda para 900 carros", disse ela. Imparato afirmou que a situação é "um problema, mas uma oportunidade pois protegemos o valor residual dos carros".
Além do 3008, que a executiva tenta ampliar importações para o país, a Peugeot iniciará vendas em 2018 da versão maior do modelo, chamada de 5008, disse Imparato, trazida da França.
O grupo PSA tem um complexo industrial em Porto Real (RJ) com a marca irmã Citroën, mas o executivo não comentou se a Peugeot pretende ampliar a gama de modelos produzidos no Brasil. A unidade produz os automóveis Peugeot 208 e 2008 e Citroën C3 e Aircross. "Para a América Latina, o objetivo final é sempre que possível fazer os carros localmente."
Segundo Borsari, a reversão do mercado brasileiro nos últimos meses, saindo de queda de dois dígitos para crescimento de 24 por cento em setembro, está sendo puxada pelas vendas para pessoas jurídicas, principalmente locadoras de veículos, que tipicamente geram margens menores para as montadoras.
"Há alguns primeiros indicadores que começam a ser favoráveis o que nos leve a acreditar em uma retomada (do mercado), mas, diferente de anos anteriores, será uma retomada muito mais lenta no canal de pessoa física", disse a executiva.
Além dos SUVs, a Peugeot vai começar a ampliar a partir deste mês os modelos de comerciais leves vendidos no Brasil. A empresa lança o furgão Expert, produzido no Uruguai, e avalia vender no Brasil uma picape com capacidade para 1 tonelada de carga. "A picape faz sentido para o Brasil e é importantíssima para contribuir tanto em volume como em rentabilidade", disse o presidente da PSA para a América Latina, Carlos Gomes.
Segundo Gomes, a PSA é rentável na América Latina desde 2015, tendo alcançado lucro de mais de 100 milhões de euros em 2016. Ele evitou fazer projeções para este ano. "O mercado está sendo destruidor de margem em 2017, as montadoras no Brasil empurraram produção para a Argentina, que está crescendo, o que colabora para reduzir margens, enquanto no Brasil ficou estável", disse Gomes.
Sobre a europeia Opel, comprada da GM pela PSA no início do ano, Gomes disse que o Chile seguirá nos próximos dois a três anos pelo menos como único país da América Latina a vender carros da marca. "A prioridade da Opel é a Europa".
(Por Alberto Alerigi Jr.)