Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A PicPay ampliou sua base de clientes em 20% nos últimos três meses, apostando que a escala será decisiva para definir os vencedores no mercado de carteiras digitais.
A companhia, que atingiu 12 milhões de contas, iniciou nesta semana uma campanha de mídia massificada para tentar manter o ritmo, enquanto aumenta a equipe para dar suporte à expansão. O plano é fechar 2020 com 1.500 empregados, ante os atuais 700 funcionários.
"Para o negócio ficar de pé, tem que ter uma base grande de clientes", disse à Reuters o presidente-executivo da PicPay, Gueitiro Genso.
O movimento acontece no momento em que novos concorrentes surgem quase diariamente no mercado brasileiro de pagamentos, na esteira de estímulos regulatórios para maior competição no sistema financeiro, com o Banco Central prevendo para 2020 a entrada em vigor do pagamento instantâneo.
A Lojas Americanas (SA:LAME4) criou o Ame e o Carrefour (SA:CRFB3) Brasil comprou metade da Ewally. O Mercado Livre lançou o Mercado Pago. Os aplicativos de entregas iFood e Rappi criaram serviços próprios de pagamentos. Isso sem contar as instituições financeiras, como o iti, do Itaú Unibanco, e o Cielo (SA:CIEL3) Pay, da Cielo.
A própria PicPay, que se apresenta como a maior carteira digital de pagamentos do país, é controladora pela J&F, também dona da JBS (SA:JBSS3) e do Banco Original.
Enquanto plataformas de pagamentos oferecem uma prateleira crescente de serviços financeiros, seja por conta própria ou por meio de parcerias, especialistas têm observado os riscos de braços de um conglomerado disputarem os mesmos clientes.
Para Genso, que assumiu o comando PicPay há três meses após mais de três décadas no Banco do Brasil (SA:BBAS3), por ora o risco de redundância é pequeno, dado que o alvo principal do mercado são os desbancarizados, público estimado em cerca de 30 milhões de pessoas no país.
"No nosso caso, a sobreposição em relação ao Banco Original é de cerca de 3%", disse o executivo.
Segundo ele, à medida que a bancarização crescer e que a dificuldade de as pessoas de trocarem de banco diminuir, o Brasil deve repetir o que aconteceu em mercados mais maduros, nos quais as vantagens de escala e a capacidade de oferecer experiências positivas para os clientes definem quem sobreviverá.
"Daqui a uma década, vão ficar uns 5 ou 6 players que conseguirem oferecer valor para os clientes e nós pretendemos ficar com uns 25% do mercado", disse Genso, contando que a PicPay está agregando serviços em sua plataforma, incluindo marketplace e chargeback, o que servirá tanto para fidelizar clientes quanto para ampliar as fontes de receitas.
A despeito da rápida expansão das contas digitais, questões sociais, regionais e culturais devem manter o cartão como meio bastante usado por algum tempo, o que exigirá das empresas de pagamentos capacidade de adaptação. É o caso de geografias mais distantes dos grandes centros e das favelas, onde a aceitação de pagamentos digitais ainda é baixa, disse.
Por isso, a PicPay começou a também operar com cartões, nas funções débito e crédito. De forma promocional, a fintech permite que clientes façam pagamentos ou transferências de até 800 reais no cartão de crédito, sem cobrar juros.
FUTURO
Criada em Vitória (ES) há sete anos, a PicPay tem a J&F como controladora desde 2015. Segundo Genso, seguir mais adiante como uma empresa independente e, eventualmente, listada na B3, "seria um caminho natural", mas não há um horizonte para isso agora.
Enquanto tem conversado com investidores internacionais interessados em se tornarem sócios do negócio, a PicPay tem como uma das metas seguir operando no azul, mesmo diante do atual ciclo de crescimento acelerado.
"Não temos necessidade de aporte para sustentar o negócio", completou Genso.