Por Shadi Bushra e Ayla Jean Yackley
CAIRO/ISTAMBUL (Reuters) - Clérigos muçulmanos no Oriente Médio que condenaram o ataque da semana passada ao Charlie Hebdo criticaram o jornal francês nesta quarta-feira por publicar um cartum do profeta Maomé na sua primeira edição depois da ação extremista.
Na capa da sua "edição dos sobreviventes", cujas milhões de cópias rapidamente se esgotaram na França, o jornal estampou o desenho de um choroso Maomé com uma placa e a mensagem "Je suis Charlie", abaixo da manchete "Tudo é perdoado".
Enquanto líderes muçulmanos ao redor do mundo condenaram com veemência o ataque que matou 12 pessoas, muitos disseram que a decisão de imprimir o novo cartum de Maomé era uma provocação que poderia causar mais tensão.
Esses cartuns "alimentam sentimentos de ódio e ressentimento entre as pessoas", e publicá-los "mostra desprezo" pelos sentimentos muçulmanos, disse o grande mufti de Jerusalém e territórios palestinos, Mohammed Hussein, em comunicado.
O diário independente da Argélia Echoruk respondeu com um cartum próprio na primeira página, que mostrava um homem carregando a placa "Je suis Charlie" perto de um tanque militar esmagando placas da Palestina, Mali, Gaza, Iraque e Síria.
Sobre o desenho, a manchete: "Somos todos Maomé".
Enquanto o Charlie Hebdo era denunciado em boa parte do Oriente Médio, houve notáveis exceções na Turquia, o país com a tradição mais forte de secularismo na região. O jornal de oposição Cumhuriyet imprimiu uma seção especial com trechos da edição do Charlie Hebdo.
O jornal imprimiu versões pequenas e em preto e branco da capa em duas de suas colunas, mas não usou a imagem na seção especial, depois de "muitas consultas", disse o editor-chefe no Twitter.
A polícia isolou a sede do jornal em Istambul por causa das preocupações com segurança. No escritório do jornal em Ancara, manifestantes colocaram cartazes num muro perto que diziam: "A provocação do Charlie continua".
Uma corte turca ordenou o bloqueio de alguns sites que reproduziram a capa do Charlie Hebdo.
O site de notícias T24, no entanto, publicou a imagem
"Isso se tornou um tema de liberdade de expressão, e não mais sobre sentimentos religiosos. Publicamos para defender os valores da expressão livre", disse o editor Hazal Ozvaris, à Reuters.