SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil deverá produzir um volume recorde de 41 milhões de toneladas de açúcar na safra 2020/21, ante 29,6 milhões no ciclo anterior, ampliando a destinação de cana para a produção do adoçante em detrimento do etanol, cuja fabricação despencará por impacto da queda do consumo em meio à pandemia do Covid-19, avaliou nesta segunda-feira a Job Economia.
A exportação de açúcar do país na temporada recém-iniciada no centro-sul brasileiro está prevista em 29,80 milhões de toneladas, versus 19,44 milhões de toneladas na safra passada, segundo a consultoria.
O Brasil destinará 48,4% da cana para a produção de açúcar em 2020/21, versus 35% na safra anterior, o que permitirá ao país retomar da Índia a posição de maior produtor global da commodity.
"O açúcar retoma seu papel de 'salvador da pátria', com preços e demanda melhores que o etanol", disse o sócio-diretor da Job Economia, Julio Maria Borges, lembrando que o Brasil se adiantou e travou vendas da maior parte da exportação quando as cotações estavam melhores, ajudado também por um câmbio favorável.
Ele comentou ainda que essa exportação maior levará o mercado a superávit na próxima temporada global, que se inicia em outubro. Em fevereiro, a Organização Internacional do Açúcar previu um déficit de 9,4 milhões de toneladas no período 2019/20, que se encerra em setembro.
"A hora que o Brasil faz 10 milhões de tonelada a mais, ele acaba com déficit. Em 2020/21, vai ser superavitário. O déficit mundial durou um ano só, isso não é frequente de acontecer", disse ele, explicando que essa flexibilidade de o Brasil alterar radicalmente a produção de um ano para outro tem impactos estruturais no mercado de açúcar e só é possível pelo fato de o país ter no etanol outro importante derivado da cana.
O recorde anterior de produção de açúcar do Brasil havia sido atingido em 2016/17, quando o país produziu 38,7 milhões de toneladas. Já a Índia, acrescentou a Job, teria limites para produzir mais de 34 milhões de toneladas, volume próximo do teto já produzido.
CENTRO-SUL
Já a produção de açúcar do centro-sul do Brasil (excluindo-se Norte e Nordeste) somará 37,5 milhões de toneladas, versus 26,73 milhões na temporada anterior. A fabricação de etanol de cana da região de cairá para 25 bilhões de litros, ante 31,6 bilhões na safra passada.
No Brasil, a produção de etanol de cana foi vista em 26,8 bilhões de litros, ante 34 bilhões em 19/20.
O volume total produzido, incluindo etanol de milho, atingiria 28,6 bilhões de litros.
Para a Job, a demanda por etanol cairá 16%, com o mercado interno do combustível consumindo 28 bilhões de litros.
"O abastecimento do mercado de ciclo Otto pelo etanol será mínimo e comparável àquele observado em 2016/2017. Cerca de 25% do potencial de mercado do etanol será abastecido nesta safra 2020/21", disse ele, acrescentando que as exportações e importações serão próximas daquelas da safra passada, de 2,1 bilhões e 1,5 bilhão de litros, respectivamente.
A safra de cana no Brasil e no centro-sul também terá pouca alteração, somando 647 milhões de toneladas e 594 milhões de toneladas.
(Por Roberto Samora)