Manuel Pérez Bella.
Rio de Janeiro, 11 dez (EFE).- O futebol, paixão nacional, se transformou em ferramenta para ensinar a centenas de jovens do Rio de Janeiro as aptidões necessárias para conseguirem entrar no mercado de trabalho, através de um programa de uma ONG patrocinada pela Fifa.
O instituto Companheiros das Américas, filial da fundação americana Partners, dirige o projeto Vencer, que através dos chutes propaga valores como trabalho em equipe, comunicação com os companheiros e disciplina.
A escolinha de futebol conta com jovens entre 16 e 24 anos, funciona desde 2006 em Curicica, na Zona Oeste da capital fluminense, e há três anos conta com o apoio do projeto Football for Hope, da Fifa.
Durante uma visita para jornalistas guiada pela Fifa, a diretora do Companheiros das Américas, Heloísa Andrade de Paula, afirmou que o futebol e a procura por um emprego "compartilham os mesmos valores".
Os cursos duram de sete a nove meses, e são divididos em quatro períodos: no primeiro, há um trabalho intensivo para relacionar as habilidades futebolísticas e a busca por um emprego, no segundo recebem aulas de orientação profissional e aprendem a redigir currículos.
Na terceira fase são realizados treinamentos em empresas e, logo depois, é acompanhada a introdução do aluno ao mercado, que pode voltar à escola se considerar necessário.
Nas aulas de futebol, os alunos fazem exercícios como disputar uma partida na qual precisam dizer em voz alta cada um dos movimentos que realizam, seja um passe, um chute para o gol e mesmo um carrinho no tornozelo.
Se os alunos não disserem o movimento que fazem, o professor marca falta e anula a jogada.
Depois, é realizada uma ação contrária: É obrigatório que joguem em silêncio, com o objetivo de ensinar a se comunicarem com linguagem corporal.
"Antes e depois de cada jogo, tem que se fazer comentários sobre o treinamento. São perguntados sobre o que foi mais difícil: jogar falando ou não. Queremos que aprendam a importância da comunicação no ambiente de trabalho", disse Heloísa.
O projeto Vencer já recebeu cerca de 2.500 alunos e esse ano conta com 54 estudantes, a maioria de Curicica e alguns de outros bairros da cidade.
Inicialmente, o projeto só admitia meninas, mas desde 2009 as turmas são mistas e as fronteiras foram ampliadas com a chegada de um aluno colombiano e outro congolês, ambos refugiados, que foram incorporados ao projeto graças a um acordo com o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur).
A ONG procura alunos nas escolas dos bairros mais carentes da cidade. Ex-alunos continuam participando do projeto, contando aos atuais como ele os ajudou a encontrar um emprego.
Wallace Nascimento, que participa no projeto atualmente, disse que a escola prepara "um pouco" para a procura por um emprego, mas nem tanto como o projeto.
O jovem, de 16 anos, apesar de se considerar um dos melhores jogadores da turma, afirmou que seu sonho não é se profissionalizar no esporte, mas sim, se tornar um mecânico de aviação.
O Vencer é um dos cinco projetos que a Fifa patrocina no Brasil, como parte do Football for Hope, programa beneficente dirigido pela entidade.
O argentino Federico Addiechi, diretor do Football for Hope, declarou que a Fifa pretende aumentar esse tipo de atividades no Brasil nos próximos anos, aproveitando que o país será sede da Copa do Mundo de 2014. EFE