Por Aluísio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - Convencer um cliente de plano de saúde a migrar de um modelo totalmente coberto pela mensalidade por outro em que paga parte dos custos com consultas e exames não parece algo promissor, especialmente se a operadora quer aumentar o número de clientes.
Mas é exatamente nisso que está apostando a Qualicorp para não somente reter, como ampliar sua base de clientes, tudo isso num ano em que a economia brasileira se aproxima cada vez mais de uma recessão.
"Vamos tentar mostrar para os clientes que isso é um bom negócio", disse nesta terça-feira à Reuters o diretor de relações com investidores da companhia, Wilson Olivieri, durante o Brazil Investment Fórum, evento do Bradesco BBI.
Antes, durante apresentação a investidores, Olivieri previu que a companhia terá neste ano um aumento líquido de 90 mil "vidas", termo como as seguradoras chamam seus clientes.
De acordo com o executivo, a empresa está preparada para um maior número de pedidos de desligamento de planos por parte de clientes individuais, devido ao panorama econômico mais adverso, com aumento dos índices de desemprego.
Segundo Olivieri, a oferta de co-participação será um meio de reter clientes, já que esse tipo de plano tem uma mensalidade menor. Aceitando a migração, os usuários tenderiam a usar serviços como consultas e exames com menos intensidade.
Para a operadora, essa migração teria dois impactos positivos, explicou o executivo. Primeiro, a queda na sinistralidade, que é como as seguradoras chamam as despesas acima de um determinado nível esperado para atender clientes.
A co-participação é um instrumento cada vez mais usado nos planos corporativos como meio de reduzir os gastos das empresas com os planos de saúde dos funcionários.
Segundo Olivieri, essa é uma tendência crescente também nos planos individuais nos Estados Unidos e a aposta da Qualicorp é que isso também aconteça aqui.
A expectativa da companhia é que, se isso acontecer, ela também se beneficie da redução das despesas pagas por serviços não prestados por clínicas e hospitais.
A lógica nesse caso é evitar que o mau uso das chamadas pré-autorizações, formulários que os clientes de planos de saúde assinam ao dar entrada num hospital, mas que nem sempre são efetivamente usados.
"Se esses serviços são cobrados, o paciente nem fica sabendo", explicou Olivieri. "Se ele sabe, lógico que vai reclamar, porque vai pagar parte disso". "A ideia é ter o beneficiário como parceiro para ajudar a reduzir custos."
A meta da Qualicorp para 2015 é conseguir reajustar os preços de seus planos em 17 por cento, em média, mesmo nível que aplicou no ano passado.
Com a combinação de aumento de receitas e queda nos custos, a empresa prevê um ganho na margem líquida em relação a 2014.