A cautela dita o rumo da Bolsa brasileira na abertura do pregão nesta segunda-feira, em meio a dúvidas a respeito de um novo pacote de ajuda aos Estados Unidos, tensão geopolítica e temores relacionados ao fiscal no Brasil. O assunto sobre a manutenção do teto de gastos vem rendendo e crescem rumores sobre saída do ministro da Economia, Paulo Guedes. Desde a semana passada, quando houve a 'debandada' no Ministério, com a baixa de mais dois secretários que estavam insatisfeitos com o andamento da pauta econômica, sobretudo a de privatizações, o clima não é mais o mesmo no governo.
Às 11h36, o Ibovespa caía 0,39%, aos 100.959,29 pontos. Vale lembrar que hoje também é dia de vencimento de opções sobre ações na B3, o que colabora para a instabilidade.
Depois de afirmar que se comprometeria com a saúde fiscal do País, o presidente Jair Bolsonaro disse que não haveria problema em furar o teto e, neste fim de semana, recuou, dizendo que o teto é 'norte' do Brasil. Ainda no radar está boatos de que a relação entre o ministro e o presidente está arruinada e um provável substituto de Guedes seria o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
Dúvidas crescentes sobre os rumos fiscais do País em 2021, que agora incluem a própria permanência do ministro Guedes, favorecem uma visão mais conservadora dos mercados neste momento, observa em nota o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria Integrada.
Como fatores que tendem a abrandar esse cenário, o sócio da consultoria cita que têm crescido movimentos de defesa do teto nos últimos dias, inclusive de forma dúbia pelo próprio presidente. De todo modo, avalia o economista da Tendências, o momento não é favorável para os ativos domésticos, que devem permanecer voláteis e sem motivos para uma valorização consistente.
"Com certeza, esse será o principal driver da semana se Guedes fica, ou não. Como se dizem: 'onde há fumaça, há fogo'. E se fator sair, desse estressar o mercado, pois ele é um pilar importante do governo Bolsonaro, da agenda reformista", avalia Marcel Zambello, analista da Necton Investimentos.
Em um ambiente de cautela interna, o externo também não é motivo de otimismo, diante de novos capítulos nas tensões geopolíticas e de temores ligados a um novo estágio de covid-19 em partes do globo. Nem mesmo a injeção de 700 bilhões de yuans, o equivalente a US$ 101 bilhões na economia pelo Banco Central da China (PBoC), animam consideravelmente os mercados. As bolsas europeias têm sinais mistos e os índices futuros de Nova York sobem entre 0,22% e 0,77%, enquanto o petróleo recua entre 0,35% e 0,51% nos EUA e em Londres, respectivamente. O minério de fechou em baixa de 0,41%, no porto chinês de Qingdao, a US$ 121,94 a tonelada.
Em meio a todo essa instabilidade que já vem há tempos, a reunião para tratar de comércio entre EUA-China marcada para sábado foi suspensa para ser realizada em uma nova data ainda não definida.
O presidente americano, Donald Trump, ordenou que a companhia chinesa ByteDance venda todos os ativos do aplicativo TikTok no país em 90 dias, citando mais uma vez questões de segurança nacional. Uma semana antes, ele assinou um decreto banindo a operação do TikTik e do WeChat nos EUA em 45 dias. Os EUA ainda ampliaram restrições da chinesa Huawei a tecnologia americana. "A Huawei está espionando nosso país", disse esta manhã o presidente americano, Donald Trump.
Na avaliação do CEO da Omninvest, Roberto Attuch Jr., os mercados ainda têm dado pouca atenção às questões geopolíticas, mas é preciso acompanhar, pois há o risco de uma nova guerra fria. Também, diz, a disputa eleitoral nos EUA vem ganhando debate e pode ocorrer por lá uma eleição nos moldes da vista em alguns países emergentes, que não aceitaram seus resultados, diante da possibilidade do voto pelo correio.
Ontem, a Bielo-Rússia viveu as maiores manifestações desde o fim do comunismo no país, ainda na década de 1990. A mobilização ocorre em pelo menos 33 cidades do país do Leste Europeu após eleições consideradas fraudadas que deram nova vitória a Alexander Lukashenko, populista no poder há mais de 26 anos.
Trump disse nesta manhã que se houver voto universal pelo correio, não haverá uma eleição "justa".