RIO DE JANEIRO (Reuters) - Um represamento de preços de combustíveis elevaria o risco de um desabastecimento no Brasil, como vem ocorrendo na Argentina, disse o diretor de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade da Petrobras (SA:PETR4), Rafael Chaves, nesta sexta-feira.
"Se a gente achar que tem alguém iluminado, seja do Legislativo, do Executivo ou do Judiciário... e usa a caneta para definir preços, estamos errados", disse Chaves, em evento promovido pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças.
A declaração ocorre após o governo indicar, na véspera, a lista de dez nomes para o futuro conselho de administração da Petrobras, em meio a insatisfação do presidente Jair Bolsonaro com os preços praticados pela companhia e com a elevada rentabilidade da estatal.
As trocas no conselho e na comando da petroleira têm sido interpretadas como uma tentativa do governo, acionista majoritário da estatal, de modificar a política de preços da companhia.
"Só tem dois tipos de preço: o de mercado e o tabelado, a gente não pode cair na tentação de praticar preços tabelados. A gente aprendeu isso no passado. E se não aprendeu no passado, aprende com o vizinho", afirmou Chaves.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), 19 das 24 províncias da Argentina vêm enfrentado escassez de combustíveis há semanas após a estatal local de petróleo represar preços e "afugentar" importações privadas para atender ao mercado local.
No caso brasileiro, a associação dos importadores de combustíveis Abicom e a consultoria CBIE apontam que há uma defasagem de dois dígitos entre os preços do diesel e da gasolina no mercado interno em relação às cotações internacionais.
A gasolina não sofre reajustes pela Petrobras há cerca de três meses. Já o diesel foi reajustado em maio e, na sequência, o presidente Jair Bolsonaro trocou o comando do Ministério de Minas e Energia e, em seguida, anunciou que mudaria a presidência da Petrobras.
O executivo da Petrobras destacou que respeitar preços de mercado é condição fundamental para atrair investidores e novos investimentos no setor de óleo e gás.
"Tem que fazer do Brasil um porto seguro para esses investidores e, para isso, tem que se respeitar os preços de mercado", finalizou.
Na quarta-feira, a Petrobras divulgou uma nota à imprensa reiterando o seu compromisso com a prática de preços competitivos e em equilíbrio com o mercado global, "necessária para a garantia do abastecimento doméstico".
A empresa ressaltou no comunicado que "não é a única supridora de combustíveis no Brasil", embora seja a maior, e destacou que sem a prática de preços de mercado não há estímulo para o atendimento ao mercado brasileiro pelos diversos agentes do setor".
(Por Rodrigo Viga Gaier)