Por Julio Alves
Investing.com – Após a recente alta da taxa Selic no Brasil, que passou para 10,75% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a S&P Global Ratings divulgou um relatório em que alerta sobre os efeitos negativos dos juros maiores para a qualidade dos ativos bancários.
Segundo a nota da agência, assinada pelos analistas Guilherme Machado e Sergio Garibian, os bancos podem enfrentar pressão em um cenário de juros altos por mais tempo, com impactos nos níveis de inadimplência e na capacidade de financiamento de empresas e consumidores.
A S&P afirma que o aumento da Selic foi necessário, devido à "dinâmica incerta em relação à política monetária externa e às expectativas de inflação local". Apesar de os bancos brasileiros terem apresentado resultados robustos no primeiro semestre de 2024, sustentados por margens líquidas fortes e menores provisões de crédito, há um risco de deterioração da qualidade dos seus ativos, caso os juros permaneçam elevados por muito tempo.
"Esperamos agora que as taxas de juros permaneçam altas no Brasil por um período prolongado", destaca o relatório. Essa situação pode prejudicar os tomadores de empréstimos, aumentando a carga de dívida para empresas e indivíduos, especialmente em setores mais vulneráveis. Pequenas e médias empresas, por exemplo, já estão em uma situação delicada, com "o número de pedidos de falência atingindo níveis recordes em 2024", alerta a S&P.
Outro ponto destacado é que, apesar de os lucros dos bancos ainda poderem se beneficiar das margens fortes, há uma previsão de aumento nos empréstimos problemáticos, que devem passar de 3,2% em junho para entre 3,5% e 4,0% até o final do ano. A agência projeta que "os bancos mantenham altos índices de cobertura de provisão para mitigar o impacto" da deterioração na qualidade de seus ativos.
Por fim, o crescimento do crédito também deve ser moderado, com a S&P estimando uma alta entre 9% e 10% até o final de 2024, enquanto os bancos devem priorizar operações de crédito mais seguras, como "financiamento de veículos, empréstimos consignados e imobiliários" em vez de cartões de crédito e empréstimos pessoais.