Após vários meses consecutivos de alta, o mercado imobiliário abriu o trem de pouso e começou a baixar voo. Os relatórios operacionais preliminares divulgados pelas maiores incorporadoras do País mostram que o setor ampliou os lançamentos no terceiro trimestre, mas as vendas não acompanharam.
Os lançamentos cresceram 19,2% no terceiro trimestre, na comparação com o mesmo período de 2020, chegando a R$ 9,023 bilhões. Mas as vendas líquidas não cresceram na mesma proporção: a alta foi de apenas 1,7%, alcançando R$ 7,090 bilhões.
Os dados representam a soma dos resultados das 14 incorporadoras listadas na Bolsa de Valores que já divulgaram suas prévias operacionais: Cury (SA:CURY3), Direcional (SA:DIRR3), MRV (SA:MRVE3), Tenda (SA:TEND3), Plano & Plano (SA:PLPL3), Cyrela (SA:CYRE3), Even (SA:EVEN3), Eztec (SA:EZTC3), Helbor (SA:HBOR3), Lavvi (SA:LAVV3), Melnick (SA:MELK3), Mitre (SA:MTRE3), Moura Dubeux (SA:MDNE3) e RNI (SA:RDNI3).
O mercado de média e alta renda teve desempenho mais fraco do que o segmento popular. Empresas como Cyrela, Even, Eztec e Melnick apresentaram recuo nas vendas, apesar de aumentar os lançamentos. Lavvi e Moura Dubeux tiveram expansão em ambos. No Casa Verde e Amarela, MRV e Tenda tiveram aumento de vendas discreto, enquanto Direcional e Cury registram alta mais forte.
De modo geral, a estagnação das vendas vem da diminuição do poder de compra dos consumidores, que viram os preços dos imóveis na planta subirem para compensar a disparada nos custos dos materiais de construção. Também pesou nas contas a elevação dos juros dos financiamentos imobiliários pelos bancos.
Em setembro, enquanto a Caixa anunciou redução de 0,4 ponto porcentual nos financiamentos atrelados à poupança, os grandes bancos privados aumentaram suas taxas em cerca de 1 ponto nas linhas de crédito tradicionais. Também no mês passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros em 1 ponto, levando a Selic para 6,25% ao ano. Novo aumento deve vir na reunião do colegiado da semana que vem.
"A demanda está marginalmente pior", diz o analista do BTG Pactual (SA:BPAC11) Gustavo Cambauva. "As famílias se retraíram porque o affordability (capacidade de pagamento) diminuiu. Quem compra imóvel para investir saiu um pouco desse mercado porque está mais cauteloso com o aumento dos juros."
O levantamento dos dados das empresas também demonstra que a velocidade média de vendas do setor baixou de 25,5% para 20,2% - esse indicador calcula o porcentual das vendas no período diante da oferta total de lançamentos e estoques.
"A velocidade de vendas forte que víamos no passado caiu", afirma Cambauva. "As empresas estavam vendendo até metade dos apartamentos na largada. Isso não é comum."
Analista de mercado imobiliário do Credit Suisse (SIX:CSGN), Daniel Gasparete concorda que a demanda está esfriando e acrescenta outra razão para a menor velocidade de vendas. "O consumidor está vendo que há bastante oferta. Basta atravessar a rua ou dobrar a esquina para encontrar outro estande", diz. "As incorporadoras lançaram bastante nos últimos meses e aumentaram estoques. A oferta está mais alta, só que a demanda está mais baixa."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.