Por Antony Paone e Benoit Tessier
PARIS (Reuters) - Mais de um milhão de pessoas marcharam pelas cidades francesas nesta quinta-feira contra os planos do presidente Emmanuel Macron de elevar a idade de aposentadoria, com uma onda de greves nacionais parando trens, bloqueando refinarias e restringindo a geração de energia.
Estimulados pelo sucesso dos atos, os principais sindicatos do país convocaram um segundo dia de greves em 31 de janeiro, em uma tentativa de forçar Macron e seu governo a recuar em um plano de reforma previdenciária que faria a maioria das pessoas trabalhar mais dois anos, até os 64, antes de se aposentar.
"Agora, o governo se encontra encurralado", disseram os sindicatos em um comunicado conjunto. "Todo mundo sabe que aumentar a idade de aposentadoria só beneficia os empregadores e os ricos."
Os protestos são um grande teste para Macron, que disse nesta quinta-feira que sua reforma previdenciária é "justa e responsável" e necessária para ajudar a manter as finanças do governo em uma base sólida. Pesquisas de opinião mostram que a maioria dos franceses se opõe à medida.
Cerca de 1,1 milhão de manifestantes foram às ruas em dezenas de protestos em toda a França, disse o Ministério do Interior, número maior do que durante a primeira onda de protestos de rua, quando Macron tentou aprovar a reforma pela primeira vez em 2019. Ele arquivou essa tentativa com o início da pandemia de Covid-19.
A polícia disparou gás lacrimogêneo durante confusões intermitentes com jovens encapuzados à margem do protesto em Paris. Foram feitas várias dezenas de prisões.
"São os salários e as aposentadorias que devem ser aumentados, não a idade de aposentadoria", dizia uma grande faixa carregada por trabalhadores em Tours, no oeste da França.
"Terei que preparar meu andador se a reforma for aprovada", disse Isabelle, 53, assistente social, dizendo que seu trabalho era muito difícil para adicionar mais dois anos.
O governo diz que a reforma previdenciária é vital para garantir que o sistema não quebre. Atrasar a idade de aposentadoria em dois anos e estender o período de contribuição traria 17,7 bilhões de euros adicionais em contribuições anuais para aposentadorias, permitindo que o sistema chegasse ao ponto de equilíbrio até 2027, segundo estimativas do Ministério do Trabalho.
Os sindicatos argumentam que existem outras maneiras de financiar as pensões, como taxar os super-ricos ou aumentar as contribuições dos empregadores ou dos pensionistas abastados.
"Esse problema pode ser resolvido de uma maneira diferente, por meio de impostos. Os trabalhadores não deveriam ter que pagar pelo déficit do setor público", disse Laurent Berger, líder do CFDT, o maior sindicato trabalhista da França.
Problemas no transporte público
O transporte público foi severamente atingido nesta quinta. Apenas algumas linhas de TGV de alta velocidade operavam, com quase nenhum trem local ou regional circulando, disse a operadora ferroviária SNCF.
Em Paris, algumas estações de metrô foram fechadas e o trânsito foi afetado.
Na movimentada estação Gare du Nord, as pessoas corriam para pegar os poucos trens que ainda operavam enquanto funcionários de coletes amarelos auxiliavam os passageiros exaustos.
A funcionária de restaurante Beverly Gahinet, que faltou ao trabalho porque sua linha estava interrompida, disse que concorda com a greve, mesmo que não participe.
Mas nem todos foram tão compreensivos. "Não entendo, são sempre as mesmas (pessoas) que estão em greve... e nós que somos atingidos", disse a corretora Virginie Pinto.