Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros com prazos curtos ficaram praticamente estáveis nesta quarta-feira, enquanto as taxas longas tiveram leves altas, em um dia de ajustes técnicos, com investidores à espera dos desdobramentos da política monetária nos EUA e no Brasil.
Lá fora, repercutiu a notícia de que a inflação no Reino Unido desacelerou em junho para 7,9% na base anual, o nível mais fraco em mais de um ano. O resultado trouxe a leitura de que o Banco da Inglaterra poderá segurar a taxa de juros e, de certo modo, alimentou expectativas de que países como os EUA também possam ser menos rígidos em sua política monetária.
Nos EUA, o dado de início de construção de novas moradias unifamiliares mostrou queda de 7,0% em junho, após a elevação em maio. O número reforçou as apostas no sentido de um Federal Reserve mais contido em sua alta de juros, com o mercado enxergando apenas mais um aumento este ano, na decisão da próxima semana.
Estes fatores colocaram os rendimentos dos Treasuries de prazos mais longos em baixa, enquanto a taxa do título norte-americano de 2 anos subia, mas o movimento não se repetiu na curva de DIs (Depósitos Interfinanceiros) do Brasil.
Por aqui, as taxas curtas pouco se mexeram, com investidores posicionados à espera do encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcado para o início de agosto. Na ponta longa, as taxas tiveram leves altas, mas profissionais do mercado citaram movimentos técnicos.
“Estamos com um recesso branco no Congresso, então há pouca coisa de concreto para acontecer. Assim, os mercados ficam negociando um pouco para cá, um pouco para lá, mas muito ao sabor do day trade”, comentou o economista-chefe da Órama, Alexandre Espirito Santo.
“O DI está procurando um equilíbrio. O que vai fazer mais preço na ponta mais longa é a negociação em torno da reforma tributária no Senado. O mercado aguarda bastante isso para negociar na ponta longa. Na curta, o que influencia mais é a reunião do Copom”, comentou o especialista em investimentos e sócio da Valor Investimentos, Wagner Varejão.
Na curva a termo, a precificação segue indicando chances consideráveis de o Copom reduzir a taxa básica Selic, hoje em 13,75% ao ano, em 0,50 ponto percentual em agosto, ainda que a maior probabilidade seja de corte de 0,25 ponto.
Perto do fechamento desta quarta-feira a precificação na curva era de 44% de chances de corte de 0,50 ponto percentual da Selic em agosto e de 56% de probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual. Na sexta-feira passada, perto do fechamento, estes percentuais eram de 24% e 76%, respectivamente.
“É óbvio que os números são favoráveis para um corte de 50 pontos-base”, disse Espirito Santo, ao comentar a precificação na curva a termo. “A inflação diminuiu, há dois novos diretores do BC que muito provavelmente vão pedir uma queda de 50 pontos. Agora, se o Copom for coerente, considerando o que eles vêm falando nos últimos documentos, ele deve começar com 25 pontos”, acrescentou.
Até o encontro do Copom, no início de agosto, os investidores ficarão atentos à divulgação do IPCA-15 de julho, no dia 25, e ao resultado da reunião de política monetária do Fed, no dia 26. Ambos os eventos têm potencial para alterar a precificação antes do Copom.
Na tarde desta quarta-feira, o ministério da Fazenda alterou suas projeções para a inflação e o Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos anos.
Em entrevista coletiva, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, reforçou a pressão para que o BC corte a Selic.
"Temos, a nosso ver, condições colocadas há algum tempo... para um processo vigoroso, um processo sustentado de redução da taxa básica de juros", disse.
Neste cenário, no fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,765%, ante 12,761% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,785%, ante 10,735% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,2%, ante 10,134% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,225%, ante 10,15%.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries de 10 anos se mantinham em baixa.
Às 17:03 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 4,50 pontos-base, a 3,7444%.