Após subirem cerca de 10 pontos pela manhã desta segunda, 9, sob impacto dos atos antidemocráticos em Brasília e da rodada de elevação das projeções de inflação reveladas pelo Boletim Focus, os juros futuros perderam força à tarde e encerraram a sessão desta segunda-feira,9, em baixa. A mudança de rota das taxas veio em meio a um alívio geral nos ativos domésticos, com a ação firme e unificada de representantes dos Três Poderes aos golpistas diminuindo a percepção de risco político-institucional.
Passado o momento inicial de estresse, investidores aproveitaram para promover ajuste e realizar lucros na segunda etapa de negócios. O tombo dos rendimentos dos Treasuries no exterior, na esteira de baixa das expectativas de inflação nos EUA e de declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), servia de pano de fundo para redução dos prêmios ao longo da curva a termo.
Entre os curtos, DI para janeiro de 2024 desceu 13,631% para 13,575%. O contrato para janeiro e 2025 fechou a 12,785, de 12,90% no ajuste. Na máxima, pela manhã, havia voltado a superar a faixa dos 13% . Entre os longos DI para janeiro de 2027 caiu de 12,814% para 12,71%, ao passo que DI para janeiro de 2029 desceu de 12,858% para 12,79%.
"A resposta firme contra os atos e a sensação de que não a crise não vai escalar ajudaram as taxas a voltarem à tarde, com mercado lá fora ainda em clima de 'risk on' forte desde sexta-feira, quando saiu o payroll de dezembro", afirma o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, em referência ao relatório de emprego nos EUA, que revelou crescimento menor de salários e estimulou apostas em postura menos dura do Federal Reserve. "A reação inicial dos locais foi ruim, mas os estrangeiros parecem que não se assustaram. Os atos não mudam o panorama para o governo Lula e até enfraquecem a oposição, que ficou sem argumentos".
Para a consultoria de risco político Eurasia Group, os atos antidemocráticos podem até, no curto prazo, melhorar a posição do presidente Lula no Congresso e talvez até na opinião pública. "Há o risco de uma agitação sustentada, dadas as medidas fortes anunciadas pelo governo Lula, mas isso parece improvável", escreve o diretor da Eurasia nas Américas, Christopher Garman, em relatório.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, observa que não houve "quebra estrutural" no lado institucional e que o governo reagiu rapidamente aos ataques de extremistas, o que limitou a reação dos ativos domésticos. No caso dos juros futuros, a alta das taxas pela manhã também respondeu ao Boletim Focus, com aumento da projeção da inflação para 2023, mesmo com a prorrogação da desoneração sobre combustíveis por 60 dias.
"A partir de terça-feira, o foco será o discurso do ajuste fiscal do ministro da Fazenda Fernando Haddad, que deve priorizar os cortes de subsídios", afirma Velho. "Há dúvidas se a proposta de uma nova regra fiscal de estabilização da dívida pública já seria consenso se passaria também pelo aval do mercado".