Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a quinta-feira muito próximas da estabilidade, em um dia marcado pelo avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior, de um lado, e por uma visão mais positiva sobre a área fiscal brasileira, de outro, após a aprovação da reforma tributária no Senado.
Na quarta-feira, o plenário do Senado aprovou em dois turnos de votação a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma tributária, que prevê a unificação de tributos e uma "trava" para o crescimento da carga, entre outros pontos. O texto volta agora para a Câmara dos Deputados, após ser modificado pelos senadores.
A aprovação da reforma tributária no Senado juntou-se a outras notícias positivas para a área fiscal nesta semana, como a decisão do governo de não enviar imediatamente ao Congresso uma proposta de mudança da meta fiscal de 2024, hoje de resultado primário zero. Embora no mercado financeiro a expectativa seja de que o governo não consiga cumprir a meta, a manutenção do objetivo, ainda que temporária, contribuiu para a retirada de prêmios da curva a termo nas últimas sessões.
Nesta quinta-feira, estes fatores internos mantiveram as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) em baixa durante boa parte da sessão, ainda que no exterior os rendimentos dos Treasuries sustentassem ganhos após recuos recentes.
“A reforma tributária sendo aprovada no Senado e a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) sem mudança na meta fiscal são sinalizações positivas. Isso ajuda um pouco, ainda que marginalmente, o mercado de juros”, comentou o economista Rafael Pacheco, da Guide Investimentos.
Pela manhã, em evento da Reuters, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou que há incerteza sobre a trajetória fiscal do Brasil e que isso tem influência na política monetária, acrescentando que eventual mudança na meta de resultado primário do ano que vem dificultaria projeções.
A alta dos yields dos Treasuries, no entanto, limitava a retirada de prêmios da curva brasileira.
Durante a tarde, o cenário mudou. O presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, disse que, embora tenha havido um "progresso real" em relação à inflação, ele ainda não tem certeza sobre se será preciso elevar a taxa de juros para concluir o trabalho.
"Ainda não se sabe se uma desaceleração que acalme a inflação exigirá mais de nós, e é por isso que defendi nossa decisão de manter os juros em nossa última reunião", disse.
Além disso, um leilão de títulos do Tesouro norte-americano deu um impulso adicional aos yields e fez as taxas dos DIs se reaproximarem da estabilidade no Brasil.
“O mercado estava mais calmo na parte da manhã, com o ambiente mais favorável, os juros caindo (no Brasil) e nos EUA até subindo um pouco. Aí começou a subir mais forte, aqui (os juros futuros) viraram para o positivo depois de declarações de um dos membros do Fed”, pontuou Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos.
Neste cenário, investidores aguardavam ainda pelas declarações do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, em evento das 16h.
Powell afirmou que as autoridades do Fed "não estão confiantes" de que a taxa de juros nos EUA esteja alta o suficiente para encerrar a batalha contra a inflação. “Se for apropriado apertar ainda mais a política monetária, não hesitaremos em fazê-lo", disse Powell, em uma conferência de pesquisa do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Após os comentários de Powell, os rendimentos dos títulos de 10 anos dos EUA se mantiveram em alta -- ainda que em patamares distantes do pico recente de 5% --, enquanto as taxas dos principais contratos de DIs apagaram de vez o viés negativo de mais cedo e encerraram praticamente estáveis.
Perto do fechamento a curva a termo precificava em 91% as chances de o corte da taxa básica Selic em dezembro ser de 0,50 ponto percentual, como vem sinalizando o BC. Já as chances de corte de apenas 0,25 ponto percentual eram precificadas em 9%. Atualmente, a Selic está em 12,25% ao ano.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,795%, ante 10,791% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,58%, ante 10,582% do ajuste anterior.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,7%, ante 10,701%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,92%, ante 10,913%.
Às 17:00 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 12,40 pontos-base, a 4,632%.