Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs emplacaram nesta terça-feira a quinta sessão consecutiva de alta no Brasil, acompanhando novamente o exterior, onde os rendimentos dos títulos norte-americanos voltaram a subir em meio à percepção de que o início dos cortes de juros nos EUA pode ser adiado.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 9,945%, ante 9,924% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 9,97%, ante 9,932% do ajuste anterior.
Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,265%, ante 10,219%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,585%, ante 10,528%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,08%, ante 11,012%.
Na segunda-feira as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) já haviam registrado altas superiores a 10 pontos-base em alguns vencimentos, após dados positivos da indústria norte-americana reforçarem apostas de que o Federal Reserve pode iniciar o processo de corte de juros em julho -- e não em junho, como vinha sendo precificado.
Na manhã desta terça-feira outros dados deram força à visão de um Fed mais cauteloso antes de cortar juros. As novas encomendas de produtos fabricados nos EUA aumentaram 1,4% em fevereiro, depois de terem caído 3,8% em janeiro, informou o Departamento de Comércio. Economistas consultados pela Reuters previam alta de 1,0%.
Já o relatório Jolts mostrou poucas mudanças no mercado de trabalho. As vagas de emprego disponíveis -- uma medida da demanda por trabalho -- subiram em 8 mil, para 8,756 milhões até o último dia de fevereiro, informou o Departamento do Trabalho. Os dados de janeiro foram revisados para baixo, mostrando 8,748 milhões de vagas disponíveis, em vez dos 8,863 milhões informados anteriormente.
Os números de segunda e de terça-feira sustentaram a abertura da curva de juros norte-americana, com reflexos no mercado brasileiro.
“Todos estes dados apontam para uma atividade mais forte que o esperado e um mercado de trabalho mais forte que o esperado”, pontuou Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.
“Nas últimas semanas, tem voltado a tese de “no landing” (sem pouso), de que a economia dos EUA está muito forte, sem sinais de enfraquecimento, e por isso não seria prudente o Fed cortar juros. A curva de juros abrindo em todos os vértices lá fora e aqui tem a ver com isso”, acrescentou.
Durante a tarde o yield do Treasury de dez anos se afastou do pico do dia, o que também fez as taxas dos DIs reduzirem os ganhos.
Ainda assim, a alta nesta terça-feira foi consistente: o vencimento para janeiro de 2027, por exemplo, atingiu o pico de 10,290% (+7 pontos-base) às 14h32, para depois encerrar em 10,265% (+5 pontos-base).
Perto do fechamento, a curva a termo brasileira precificava 91% de chances de o corte da taxa básica Selic em maio ser de 50 pontos-base, como vem sinalizando o Banco Central. As apostas em corte de apenas 25 pontos-base estão em 9%. Atualmente a Selic está em 10,75% ao ano.
Profissionais do mercado têm afirmado que, com a reprecificação do início da baixa de juros nos EUA de junho para julho (ou para depois disso), a possibilidade de o Banco Central do Brasil cortar a Selic em 50 pontos-base também em junho diminui.
No exterior, às 16h37, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 3 pontos-base, a 4,359%.
Durante a tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a condicionar o cumprimento da meta fiscal às atuações do Congresso e do Judiciário. Em entrevista a jornalistas, ele pontuou que o governo vem tentando reverter benefícios como a prorrogação do incentivo fiscal ao setor de eventos e a desoneração da folha salarial de 17 setores da economia e municípios.
“Nós precisamos de um pacto nacional dos três Poderes, uma harmonia entre os Poderes para chegar aos objetivos pretendidos na área econômica, não vai ser um ministério ou um Poder da República que vai resolver a herança do governo anterior de absoluto desequilíbrio federativo e fiscal”, disse Haddad.