Brasília, 22 dez (EFE).- O presidente Michel Temer afirmou nesta sexta-feira que o Governo apoia qualquer associação entre a Boeing e a Embraer (SA:EMBR3), mas deixou claro que vetará a possível venda do controle da companhia brasileira à americana.
"Toda parceria é bem-vinda, o que não está em cogitação é a transferência de controle da Embraer", afirmou Temer em entrevista coletiva no Palácio da Alvorada.
O esclarecimento foi feito um dia depois que a Boeing, a segundo maior fabricante de aviões do mundo, e a Embraer, a terceira, confirmarem em comunicado conjunto ao mercado que mantêm conversas sobre uma possível e potencial combinação de negócios.
Como dono da chamada "golden share" ("ação dourada", em tradução livre) o Governo se reservou ao direito de vetar decisões e operações da Embraer, uma empresa estratégica para o país, no contrato com o qual privatizou a companhia há duas décadas.
As ações da Embraer chegaram a subir na quinta-feira até 40% na bolsa de São Paulo, após surgirem os primeiros rumores sobre a possível negociação com a Boeing, e fecharam com uma alta de 21,28%.
No entanto, a euforia terminou após ser confirmado que o Governo vetará a possível venda do controle da empresa e durante o pregão de hoje subiam apenas 6%.
O ministro da Defesa, Raúl Jungmann, que acompanhou Temer na entrevista, disse que, enquanto não contempla a venda do controle, o Governo apoia uma associação entre as duas empresas para fazer frente à reestruturação global do setor.
Jungann lembrou que a francesa Airbus, líder mundial no setor, adquiriu há poucas semanas uma grande participação em um negócio da canadense Bombardier, quarta maior fabricante de aviões do mundo, e que ambas as empresas negociam uma associação.
A Bombardier é a principal concorrente da Embraer no segmento de aviões para voos regionais.
"Existe um processo de reestruturação global da indústria aeronáutica e a prova disso é o negócio entre a Airbus e a Bombardier", disse Jungmann.
"A Boeing procurou a Embraer e nós temos uma posição favorável a essa e a outras sociedades, mas a Embraer tem um forte componente de defesa, por isso sua venda e transferência do seu controle acionário desservem os interesses e a soberania nacionais", acrescentou o ministro.
Jungmann lembrou que a Embraer é uma empresa estratégica para o Brasil e sócia do próprio Governo em diferentes projetos de defesa, como a construção dos caças-bombardeiros Gripen, o desenvolvimento do cargueiro militar KC-390 e a fabricação de satélites.
O controle acionário não será transferido porque "a construção do programa de caças Gripen ficaria subordinada a outro país, o projeto KC-390, essencial para as Forças Armadas e a defesa nacional, ficaria sobre o controle de outro país", afirmou o ministro.
"Não é nacionalismo com veemência. Somos favoráveis ao mercado, mas isto está relacionado diretamente à soberania nacional", acrescentou.
Os funcionários da Embraer também se manifestaram contra a possível venda do controle e pediram que o Governo vete a possível operação.
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