LONDRES (Reuters) - O primeiro teste de "desafio humano" do mundo no qual voluntários foram deliberadamente expostos à Covid-19 para avançar nas pesquisas sobre a doença foi considerado seguro em adultos jovens saudáveis, disseram líderes do estudo nesta quarta-feira.
Os dados apoiam a segurança desse modelo e podem lançar bases para estudos futuros para testar novas vacinas e medicamentos contra a Covid-19.
A Open Orphan está executando o projeto, lançado em fevereiro do ano passado, com o Imperial College de Londres, a força-tarefa de vacinas do governo britânico e a empresa clínica hVIVO.
Os cientistas usaram testes de desafio humano por décadas para aprender mais sobre doenças como malária, gripe, febre tifoide e cólera, e desenvolver tratamentos e vacinas contra elas.
Em abril do ano passado, cientistas da Universidade de Oxford lançaram outro teste de desafio humano que buscava reinfectar pessoas que já haviam tido Covid-19 em um esforço para aprofundar o entendimento sobre imunidade, em vez de infectar pessoas pela primeira vez.
O ensaio do Imperial College expôs 36 voluntários saudáveis do sexo masculino e feminino com idades entre 18 e 29 anos à cepa original do vírus SARS-CoV-2 e os monitorou de perto em um ambiente controlado de quarentena. Eles serão acompanhados por 12 meses após a alta da instalação de quarentena.
Nenhum evento adverso grave ocorreu, e o modelo de estudo de desafio humano mostrou-se seguro e bem tolerado em adultos jovens saudáveis, disse a empresa.
"Acredita-se que as pessoas nessa faixa etária sejam os principais impulsionadores da pandemia e esses estudos, que são representativos de infecção leve, permitem uma investigação detalhada dos fatores responsáveis pela infecção e propagação da pandemia", disse Chris Chiu, investigador-chefe do estudo e professor de doenças infecciosas do Imperial College.
Com o modelo estabelecido, a Open Orphan disse que deve conseguir contratar ou conduzir estudos de desafio humano da Covid-19 em 2022, sujeito a ética individual e aprovações regulatórias.
De acordo com resultados do estudo do Imperial College, ainda não revisados por pares, os sintomas começam a se desenvolver em média cerca de dois dias após o contato com o vírus.
A infecção aparece primeiro na garganta; o vírus infeccioso atinge o pico cerca de cinco dias após a infecção e, nesse estágio, é significativamente mais abundante no nariz do que na garganta.
Dezoito dos voluntários foram infectados, 16 dos quais desenvolveram sintomas leves a moderados de resfriado, incluindo nariz entupido ou escorrendo, espirros e dor de garganta, disse o Imperial College.
Alguns tiveram dores de cabeça, dores musculares e nas articulações, cansaço e febre. Nenhum desenvolveu sintomas graves. Dois participantes foram excluídos da análise final após desenvolverem anticorpos entre a triagem inicial e a inoculação.
(Reportagem de Josephine Mason)