Por Walter Brandimarte
SÃO PAULO (Reuters) - A Usiminas (SA:USIM5) precisa reduzir a escala de suas operações, vender ativos e refinanciar dívida para lidar com a recessão brasileira e a queda nos preços do aço no exterior, afirmou o presidente-executivo da siderúrgica, Rômel de Souza, nesta quinta-feira.
A demanda por produtos de aço plano caiu por mais de 25 por cento em base anual, com o Brasil entrando na sua mais profunda recessão em 25 anos, observou Souza durante uma apresentação a analistas em São Paulo.
Ao mesmo tempo, as margens nas exportações se estreitaram consideravelmente, na medida em que os preços de aço plano caíram mais rapidamente do que os de matérias-primas como minério de ferro e carvão, disse ele.
"Estamos perdendo competitividade. Cada dia que passa fica mais difícil", disse o executivo durante reunião com analistas e investidores. "A única solução é adequar o tamanho da empresa."
A Usiminas divulgou no final de outubro o quinto prejuízo trimestral consecutivo e anunciou parada na produção de aço na usina de Cubatão juntamente com a demissão de 4 mil trabalhadores da unidade. Segundo o presidente da companhia, as demissões vão ser efetivadas em janeiro do próximo ano.
Apesar do forte aumento do endividamento da empresa, o vice-presidente financeiro, Ronald Seckelmann, disse que a empresa não está considerando fazer um aumento de capital neste momento.
"Esta seria a última medida, que ainda não está na mesa", afirmou o executivo durante a reunião.
As ações da Usiminas fecharam em queda 0,36 por cento nesta quinta-feira, enquanto o Ibovespa recuou 0,39 por cento.
Em relatório, analistas do Credit Suisse afirmaram que os executivos da Usiminas não forneceram informações suficientes para alterar a avaliação negativa sobre a empresa.
Enquanto isso, analistas do BTG Pactual (SA:BBTG11) afirmaram que há pouca visibilidade sobre os impactos do plano de recuperação da empresa.
"Temos dificuldade em visualizar como estes passos (parada de produção de aço em Cubatão) vão alterar o preocupante ritmo de consumo de caixa e, infelizmente, com a demanda doméstica por aço se contraindo cerca de 10 por cento em 2016 (...) vai ser difícil levar o Ebitda de volta a território positivo", afirmaram eles.
A Usiminas terminou o terceiro trimestre com Ebitda ajustado, ou lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, negativo em 65 milhões de reais.
"A disputa entre os acionistas controladores complica as coisas ainda mais em meio a uma das mais severas crises em muitos anos", acrescentaram os analistas do BTG.
Desde o final de setembro, a Usiminas enfrenta uma disputa de poder entre os grupos controladores Nippon Steel e Ternium, que acabou envolvendo a saída do presidente-executivo Julián Eguren e outros altos executivos indicados pela Ternium. O último resultado positivo da Usiminas ocorreu no segundo trimestre do ano passado, antes da troca do comando da companhia.
Na quarta-feira, protesto promovido por sindicato de metalúrgicos da empresa em Cubatão contra as demissões foi interrompido com a chamada da Polícia Militar, que usou bombas de gás para dispersar manifestantes.
O presidente da Usiminas afirmou na reunião com investidores que a empresa já iniciou negociações com bancos para refinanciar dívida, mas não deu detalhes sobre as discussões.
Os principais credores da Usiminas são os bancos Bradesco (SA:BBDC4), Itaú Unibanco (SA:ITUB4), Banco do Brasil (SA:BBAS3), BNDES e Japan Bank for International Cooperation.
(Reportagem adicional de Paula Arend Laier)