SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A mineradora Vale (SA:VALE3) informou nesta quarta-feira que retomará em até três dias a integralidade das operações a úmido em sua mina de Brucutu, sua principal produtora de ferro de Minas Gerais, após autorização judicial que tem potencial de impactar preços globais da commodity, já em máximas históricas na China.
Maior produtora global de minério de ferro, a Vale estava operando apenas com um terço da capacidade de 30 milhões de toneladas anuais em Brucutu, devido a uma liminar que impedia a utilização da barragem Laranjeiras, de rejeitos de minério de ferro.
A liminar foi suspensa pelo ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que deferiu pedido feito pelo município de São Gonçalo do Rio Abaixo (MG), onde está Brucutu.
A retomada da operação de cerca 20 milhões de toneladas de minério de ferro anuais pela Vale, segundo analistas, poderá impactar preços globais, apesar de anúncio da gigante anglo-australiana Rio Tinto (LON:RIO), de corte de 13 milhões de toneladas previstas para 2019.
"Recebemos este anúncio com lentes positivas, pois embora possa haver alguma pressão por minério de ferro, a retomada das atividades em Brucutu é um evento importante para a Vale, pois reduz a probabilidade de perda de participação de mercado para os concorrentes, o que é um passo importante", disseram analistas do Credit Suisse, em relatório a clientes.
Os futuros do minério de ferro na China subiram quase 6% nesta quarta-feira, para níveis recorde, acompanhando um rali visto em diversas classes de ativos em meio a esperanças de investidores de que negociações comerciais entre chineses e os Estados Unidos possam recomeçar. A commodity tem sido sustentada este ano por uma menor oferta, especialmente da Vale.
Analistas do BTG Pactual (SA:BPAC11) pontuaram em relatório, entretanto, que mesmo que a decisão possa aliviar um pouco a pressão de alta nos preços, ainda não será suficiente para preencher a lacuna entre oferta e demanda, "pois a demanda continua elevada e a oferta, altamente prejudicada".
Com a operação integral em Brucutu, haverá "um incremento da qualidade média do portfólio de produtos da Vale", segundo explicou a companhia em fato relevante publicado nesta quarta-feira.
A empresa disse ainda que, com a decisão, reafirma sua projeção para as vendas de minério de ferro e pelotas em 2019, em entre 307 milhões e 332 milhões de toneladas, acrescentando que "a expectativa atual é que as vendas se aproximem do centro da faixa".
Em maio, a Vale havia afirmado que o volume de vendas deveria ficar "entre o piso e o centro do intervalo" de suas projeções, em previsão que levava em conta uma recém-anunciada decisão contra a retomada da produção em Brucutu.
A mina de Brucutu e outras da Vale têm sido alvo de ações judiciais após o rompimento de uma barragem da companhia em Brumadinho (MG) em janeiro ter deixado centenas de mortos, levantando preocupações sobre a segurança das operações da mineradora.
As ações da Vale operavam em leve alta no meio da tarde, após terem subido cerca de 2% mais cedo, depois do anúncio sobre a retomada de Brucutu.
DECISÃO MAIS SUBSTANCIAL
É a terceira vez que a mina Brucutu é liberada para reiniciar operações, desde que sofreu embargo no início de fevereiro.
Mas o Credit Suisse acredita que essa última decisão pode ter mais força, uma vez que a decisão, de terceira instância, foi proferida pelo presidente do STJ, e o apelo apresentado foi feito pelo município.
"A prefeitura de São Gonçalo do Rio Abaixo alegou, no pedido de suspensão, que a paralisação de qualquer estrutura vital para a continuidade das operações da Mina de Brucutu afeta diretamente o interesse público e a economia local", informou release do TSJ.
O município também argumentou, segundo o STJ, que a barragem Laranjeiras tem recente declaração de estabilidade, o que afasta risco no seu funcionamento e, consequentemente, no da mina de Brucutu.
(Por Luciano Costa e Marta Nogueira; reportagem adicional de Paula Laier)