Indefinição externa impede o Ibovespa de dar sequência a uma alta firme, assim como a aprovação do Orçamento que beneficia projetos eleitorais fica no radar, já que está longe de afastar as preocupações com o fiscal do Brasil. No radar dos investidores estão as preocupações com os efeitos da variante Ômicron de coronavírus sobre a atividade mundial, dado que vários países estão adotando medidas sociais restritivas. Ao mesmo tempo, esperam um norte a partir da leitura final do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano do terceiro trimestre, que subiu a um ritmo anualizado de 2,3% no terceiro trimestre, ante previsão de 2,1%
Os dados dos Estados Unidos são acompanhados com afinco pelo mercado, à medida que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) está acelerando a retirada do tapering (estímulos) e pretende promover três altas dos juros em 2022. Após o PIB, o Ibovespa acentuou a queda, assim como a maioria dos índices futuros de ações de Nova York.
"Deve ser um dia de leve busca por risco, mas sem grandes movimentos. Portanto, mais uma dia de baixa liquidez e instabilidade, com viés negativo", estima o economista-chefe do BV, Roberto Padovani, em nota.
Conforme Viviane Vieira, operadora de renda variável da B. Side Investimentos, com a liquidez reduzidas nesses dias por causa das festas de final de ano, a dificuldade em definir um norte para o mercado fica elevada. "O cenário já não está muito bom, com perspectiva de recessão no Brasil, em meio a uma inflação alta", diz..
Logo após a abertura, o Ibovespa renovou máximas, porém a alta era moderada, em sintonia com a estabilidade vista no pré-mercado acionário americano. Investidores esperam a divulgação, às 10h30, da leitura final do PIB dos EUA do terceiro trimestre. "Todo mundo também está esperando para saber quais serão os efeitos da Ômicron na atividade", afirma Carlos Duarte, planejador financeiro CFP pela Planejar.
Depois de muito impasse, o Orçamento de 2022 foi aprovado ontem - na Câmara e no Senado -, definindo o fundo eleitoral em R$ 4,9 bilhões, inferior ao valor de R$ 5,1 proposto antes, porém maior do que o da eleição de 2020. Dentre outras considerações, o texto incluiu a previsão de R$ 1,7 bilhão para aumento dos salários de policiais federais - base de apoio do chefe do Executivo -, abrindo precedente para que outras categorias se mexam nessa direção e elevando as incertezas fiscais. Na reta final, os deputados e senadores carimbaram R$ 16,5 bilhões de emendas de relator do chamado "orçamento secreto.
Segundo Duarte, ainda que partes do texto do Orçamento de 2022 gerem ruídos, a aprovação em si já foi incorporada pelo investidor. "Por mais que os servidores possam fazer um movimento radical pleiteando reajuste salarial nos moldes dos policiais federais, não terá grandes impactos fiscais. Só valerá o que está no Orçamento. Então, a Bolsa deve replicar o desempenho externo", completa. Às 10h14, o Ibovespa subia 0,20%, aos 105.711,37 pontos, na máxima diária, ante abertura aos 105.498,60 pontos.
Por ora, o desempenho das commodities não deve ajudar tanto o Ibovespa. O petróleo tem instabilidade, enquanto as ações da Petrobras (SA:PETR4) sobem quase 0,30% apenas. Já o minério de ferro negociado em Qingdao, na China, fechou com queda de 2,62%, a US$ 123,39 a tonelada, penalizando ações do setor na Bolsa. Vale ON (SA:VALE3) cedia 0,57%.
O noticiário corporativo segue no radar, a começar pela Petrobras. A companhia arrematou a capacidade de transporte extraordinária de gás natural ofertada pela TBG para 2022. A petrolífera também concluiu a renovação do seu Registro de Prateleira (shelf registration) na U.S. Securities and Exchange Commission (SEC).
Já o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou, na terça-feira, o novo valor do benefício econômico dos novos contratos de concessão da Eletrobras (SA:ELET3). O órgão estabeleceu em R$ 67 bilhões o valor adicionado pelos novos contratos de concessão de geração de energia elétrica para 22 usinas hidrelétricas da estatal atingidas pela lei de capitalização. As ações subiam 1,0% (PNB) e 0,39% (ON)
Às 10h33, o Ibovespa cedia 0,35%, na mínima, aos 105.130,63 pontos, após subir 0,46%, fechando ontem aos 105.499,88 pontos.