Por Tatiana Bautzer e Rafaella Barros
SÃO PAULO (Reuters) - A Yara Fertilizantes está prestes a fechar um acordo para a compra da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN-III) da Petrobras (BVMF:PETR4) em Três Lagoas (MS), disseram à Reuters duas fontes com conhecimento no assunto nesta sexta-feira.
A oferta da companhia norueguesa, um dos principais players globais e do setor de fertilizantes no Brasil, foi selecionada como vencedora pela Petrobras, e o negócio agora precisa ser aprovado pelo Conselho de Administração da empresa, acrescentou uma das fontes. O anúncio é esperado nas próximas semanas.
Ao longo do processo de venda, houve interesse de pelo menos cinco companhias, sendo duas nacionais e três grupos estrangeiros, disseram à Reuters fontes a par do assunto. A brasileira Unigel estava entre elas, como revelou a Reuters em abril.
As fontes não especificaram o valor do negócio, mas o acordo deve ser inferior a 100 milhões de dólares, uma vez que a construção da unidade ainda precisa ser concluída.
Relançado este ano após um fracasso nas negociações com o grupo russo Acron, o processo de desinvestimento da fábrica é considerado mais um passo importante para o agronegócio brasileiro, pela potencial redução da dependência da importação de fertilizantes pelo país, hoje em torno de 85%.
As obras da fábrica começaram em 2011 e foram paralisadas em dezembro de 2014, com 81% de conclusão, por problemas no cumprimento de contrato.
A petroleira quer se desfazer do negócio, assim como tem feito em relação a outros ativos, para focar na exploração e produção de petróleo.
Quando entrar em operação, o projeto da unidade indica capacidade de produção de 2.200 toneladas por dia de amônia e 3.600 toneladas por dia de ureia, ou cerca de 20% do consumo aparente de ureia no Brasil em 2020.
No Brasil, a Yara tem cinco fábricas de produção e 24 unidades misturadoras de fertilizantes próprias, com presença nos principais polos de produção agrícola, segundo informação do site da companhia.
A localização da fábrica de Três Lagoas é considerada estratégica, pela sua proximidade com a Bolívia, que seria fornecedora do gás natural em uma conjuntura de oferta global cada vez mais apertada por fatores geopolíticos.
O mercado de gás, matéria-prima usada na produção de nitrogenados, tem estado sob constante clima de tensão na Europa, em meio a constantes ameaças de redução no fornecimento pelos russos.
Pelo teaser divulgado em maio, com informações iniciais da transação para potenciais compradores, a Petrobras afirma que ofereceria um contrato de fornecimento de gás ao comprador, que poderia firmá-lo ou buscar outra solução.
Apesar de a Petrobras afirmar que mais de 80% da construção da fábrica está concluída, os próprios envolvidos no processo dizem que a conclusão não deve ser rápida, podendo levar cerca de três anos.
Procurada, a Yara disse que não comenta rumores de mercado.A Petrobras disse, após ser consultada pela Reuters, que o processo está em "fase vinculante". Mais tarde, em comunicado divulgado ao mercado, a petroleira negou a informação de que esteja prestes a fechar o negócio.
"Conforme comunicado ao mercado em 29/08/2022, o projeto encontra-se na fase vinculante, não tendo alcançado ainda o estágio de recebimento de propostas. A companhia manterá o mercado informado a respeito de eventuais informações relevantes sobre o assunto", disse a Petrobras, na nota.
(Edição de Roberto Samora)