Por Stanis Bujakera e Fiston Mahamba
KINSHASA (Reuters) - O governo da República Democrática do Congo cortou conexões de internet e serviços de mensagens de celulares em todo o país pelo segundo dia consecutivo nesta terça-feira, enquanto o país aguarda resultados das caóticas eleições presidenciais do último fim de semana.
Tanto a oposição quanto a coalizão governista disseram nesta segunda-feira que estão em vias de vencer após um turbulento dia de votação no domingo, ocasião em que muitos congoleses não puderam votar devido a um surto de Ebola, conflitos e problemas logísticos.
Barnabe Kikaya bin Karubi, assessora sênior do presidente Joseph Kabila, disse que serviços de internet e SMS foram cortados para preservar a ordem pública depois que "resultados fictícios" começaram a circular nas redes sociais.
"Isso poderia nos levar diretamente ao caos", disse Kikaya à Reuters, acrescentando que as conexões permanecerão cortadas até a publicação dos resultados completos em 6 de janeiro.
O sinal da Radio France Internationale (RFI), uma das fontes de notícias mais populares no Congo, também caiu, e o governo retirou o credenciamento do principal correspondente da RFI no país na segunda-feira por ter divulgado resultados não oficiais vindos da oposição.
As medidas refletem o cenário de alta tensão no Congo, onde a eleição, há muito tempo atrasada, deveria em tese escolher um sucessor para Kabila, que deve deixar o poder no próximo mês após 18 anos - dois após o fim oficial de seu mandato.
O Congo nunca viu uma transferência democrática de poder, e qualquer resultado controverso poderia levar a uma repetição do cenário de violência que se seguiu às eleições de 2006 e 2011 e a curto circuito ainda maior na segurança das voláteis províncias orientais do país.
A oposição afirma que a eleição foi marcada por fraudes e acusou Kabila de tentar se manter no poder por meio do seu candidato a sucessor, o ex-ministro do Interior Emmanuel Ramazani Shadary.
Relatórios internos da ONU, vistos pela Reuters, registraram as alegações de irregularidades em todo o país. Em algumas partes da província de Kivu do Norte, no leste do Congo, por exemplo, combatentes da milícia teriam forçado eleitores a selecionar candidatos da coalizão governista.
Em outros lugares, as Nações Unidas receberam relatos de que forças de segurança teriam intimidado eleitores a escolher candidatos da coalizão governista.
O governo e a comissão eleitoral nacional (CENI) disseram que a eleição foi justa e que quaisquer problemas foram pequenos.
MEDOS DE VIOLÊNCIA
Na cidade de Goma, no leste do país, os moradores mostraram nervosismo com a espera pelos resultados.
"Se os resultados durante apuração presidencial não refletirem a verdade... vai haver conflito pela cidade", disse Fabrice Shweka, morador de Goma.
Os primeiros resultados parciais eram inicialmente esperados para esta terça-feira, mas o porta-voz do CENI, Jean-Pierre Kalamba, disse que eles não estariam prontos até a sexta-feira.
"Não queremos divulgar muitas tendências de votação (antes de 6 de janeiro) porque no nosso país não temos uma população com o mesmo entendimento (de prática eleitoral) como na Europa", disse ele à Reuters.
Em um comunicado divulgado na noite de segunda-feira, as embaixadas do Congo na União Européia, nos Estados Unidos e em vários outros países pediram calma e solicitaram ao governo que restabeleça o acesso à Internet.