Por Peter Frontini
SÃO PAULO (Reuters) - A empresa brasileira Mendelics prevê realizar 1 milhão de análises genéticas de ancestralidade nos próximos cinco anos no país com seu recém lançado teste meuDNA, que segundo ela permite detectar a origem genética de até oito gerações anteriores do interessado.
O teste, que em parte é realizado pelo próprio paciente após comprar o kit da empresa pela internet, envolve o processamento e análise da parte do genoma que contém a maioria dos genes humanos por meio de inteligência artificial e indica a origem genética do dono da amostra. A companhia afirma que o sistema detecta quais das 88 ancestralidades presentes na plataforma fazem parte de sua história.
O paciente que adquire o teste recebe em sua casa o kit para realizar a coleta por meio de um cotonete que insere na parte interna da bochecha. O material depois é enviado de volta à empresa para processamento e análise dos dados.
"Ao receber a amostra, nosso time de cientistas lê e traduz o que está escrito neste código. Em até seis semanas, a pessoa recebe um relatório detalhado mostrando sua origem genética, comparada com populações ao redor de todo o mundo", afirmou Cesário Martins, executivo responsável pelo projeto.
A Mendelics recebeu aportes no valor de 45 milhões de reais em rodada de investimento encerrada este mês, sendo avaliada em mais de 500 milhões de reais. A rodada foi liderada pela MCLC4, family office do fundador e ex-presidente-executivo da produtora de software Totvs (SA:TOTS3), Laércio Cosentino, que também é presidente do conselho da empresa, e pelo ex-ministro do desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Participaram ainda o fundo TMB3 e mais outros cinco novos investidores.
Anteriormente, a empresa já havia recebido investimento do fundo de private equity brasileiro da área da saúde FinHealth.
Fundada em 2012, a Mendelics afirma ser o primeiro laboratório do Brasil especializado em diagnósticos genéticos para doenças raras e câncer através da técnica de Sequenciamento de Nova Geração (NGS), que permite o sequenciamento do DNA em larga escala. A empresa possui capacidade para analisar 10 mil amostras por mês e já realizou mais de 70 mil testes de sequenciamento de DNA em seu laboratório São Paulo.
Para o futuro, a Mendelics pretende acrescentar novas funcionalidades ao teste doméstico, fornecendo uma análise que inclua a detecção da predisposição para doenças, a indicação de medicamentos mais adequados conforme o mapa genético do paciente e a identificação de mutações genéticas. As novas funcionalidades deverão ser adicionadas ao longo dos próximos meses, segundo a empresa.
O presidente-executivo da empresa, David Schlesinger, afirmou que a Mendelics está ampliando a parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS), com projetos na região de São Paulo, como o chamado Teste da Bochechinha, em que é feita uma análise genética em récem-nascidos aumentando o número de possíveis doenças que podem ser detectadas previamente.
Questionada sobre a segurança dos dados dos usuários dos serviços da companhia, a Mendelics afirmou que segue a Lei Geral de Proteção de Dados e que as informações são criptografadas e não são compartilhadas sem autorização prévia dos clientes.