Por Pei Li e Josh Horwitz
PEQUIM/XANGAI (Reuters) - Nas calçadas de Xangai e Pequim, as bicicletas Ofo, amarelas e brilhantes, encontram-se em condições precárias - correntes desengatadas, rodas dobradas e tinta desbotando - refletindo o rápido avanço seguido de um acentuado declínio da startup chinesa de compartilhamento de bicicletas.
Milhões de usuários da Ofo estão pedindo a devolução de seus depósitos e o fundador da empresa admitiu considerar um pedido de recuperação judicial.
A situação da startup é um alerta para os investidores de tecnologia da China, que investiram dezenas de bilhões de dólares em negócios deficitários, como o compartilhamento de bicicletas, de transporte urbano e entrega de alimentos.
Não muito tempo atrás, a Ofo estava levantando bilhões de dólares de investidores, incluindo o Alibaba Group e a Didi Chuxing.
"Agora parece que o compartilhamento de bicicletas é o negócio mais idiota, mas os cérebros mais inteligentes da China tentaram entrar (neste mercado)", disse à Reuters Wu Shenghua, fundador da agora falida empresa de compartilhamento de bicicletas 3Vbike.
A Ofo foi um fenômeno. Suas bicicletas sem estações de retirada e devolução, que podiam ser utilizadas com a digitalização de um QRcode e deixadas em qualquer lugar, cresceram dos campi de Pequim para se tornarem um ícone do frescor urbano e jovem. A empresa obteve uma valorização de 2 bilhões de dólares.
Mas dispendiosas batalhas por participação de mercado significaram que Ofo e seus rivais, como a Mobike, se esforçaram para transformar a popularidade em lucro. A própria sobrevivência da Ofo está agora em risco, já que as dívidas dos fornecedores venceram e as demandas dos usuários por depósitos aumentaram. Mais de 12 milhões de pessoas já solicitaram reembolso.
No seu auge, a Ofo tinha frotas de bicicletas em mais de 20 países, da França à Austrália e aos Estados Unidos. Os membros da empresa, no entanto, disseram que tentaram crescer muito rápido e se viram diante de uma série de obstáculos, desde as regras de trânsito até o vandalismo, bem como custos crescentes.
Ofo e Alibaba não responderam aos pedidos de comentário, enquanto a Didi não falou sobre o assunto.
Com uma proposta parecida com a da Ofo, a brasileira Yellow começou a operar em São Paulo em agosto. No lançamento do serviço, o presidente-executivo da empresa, Eduardo Musa, ressaltou a dificuldade das operações em compartilhamento de bicicletas. "Esse não é um serviço simples de implementar. Então só vamos para uma cidade quando tivermos certeza que ela tem estrutura para abrigar a operação", disse ele na ocasião sobre as possibilidades de expansão da empresa.
(Por Pei Li e Josh Horwitz)