Os candidatos à presidência dos Estados Unidos Joe Biden e Donald Trump estiveram frente a frente em um debate pela 1ª vez em 4 anos na 5ª feira (27.jun.2024). Durante 90 minutos, o republicano lançou ataques agressivos contra o democrata, que se apresentou oscilante e confuso em diversos momentos.
O ex-presidente voltou a fazer afirmações infundadas sobre a eleição de 2020, enquanto Biden falou rapidamente e às vezes pareceu perder o rumo em suas respostas. Acusou o republicano de mentir e de representar uma ameaça à democracia.
Jornalistas e analistas políticos consideraram a performance de Biden como fraca. Sua campanha está tentando minimizar a repercussão negativa, argumentando que ele se saiu melhor que Trump em questões importantes, apesar de ter sido pressionado em vários momentos.
O debate começou com uma pergunta para Biden sobre a inflação. O presidente, com a voz rouca por causa de uma gripe, respondeu destacando melhorias nos dados econômicos durante seu mandato. “Você precisa ver o que eu herdei quando me tornei presidente” — tossiu — “o que o Sr. Trump deixou para mim”, disse.
O republicano rebateu criticando Biden por ter “jogado dinheiro fora” e culpou-o pelo aumento da inflação nos EUA. Biden disse que não havia inflação durante a administração republicana porque a economia estava “estagnada”.
Em diversos momentos, Trump criticou diretamente Biden, descrevendo-o como “fraco” e pouco respeitado por líderes globais que “riam” dele. Voltou a afirmar que os conflitos na Ucrânia e entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza não aconteceriam sob sua gestão.
Outro tema que se destacou foi a gestão de Joe Biden na fronteira. Trump mencionou, com frequência, a questão da imigração ilegal, afirmando que o presidente estava permitindo a entrada de “terroristas” e “criminosos”, além de sugerir que a economia não está prosperando por causa do suposto roubo de empregos por imigrantes.
ABORTO
Como já era esperado, a questão do aborto foi um dos tópicos de maior embate entre os candidatos.
Quando questionado sobre pílulas abortivas, Trump disse que não bloquearia o acesso aos medicamentos. Este mês, a Suprema Corte rejeitou um pedido de grupos contrários ao aborto para que o tribunal restringisse o acesso a uma pílula abortiva.
No entanto, Trump criticou repetidamente Biden por prometer restaurar Roe vs. Wade, alegando incorretamente que isso permitiria aos médicos sob a administração Biden “tirar a vida do bebê no 9º mês e até mesmo após o nascimento”.
O atual presidente declarou que a questão deve ser decidida exclusivamente entre as mulheres e seus médicos, e classificou como “absurda” a tentativa de interferência por parte de políticos. Em contraposição, Trump acusou os democratas de serem “radicais” em relação ao tema.
O assunto do direito ao aborto passou a ser muito relevante depois de a Suprema Corte dos EUA ter derrubado a jurisprudência Roe vs. Wade. O caso foi decidido no início dos anos 1970 e garantiu por décadas o direito legal das mulheres ao aborto, uma regra que é definida em cada Estado norte-americano.
Biden sempre se declarou a favor do direito ao aborto. Durante sua campanha, usou o tema para tentar obter apoio de mulheres no processo eleitoral. Também culpou Trump pelo “caos” causado pela anulação da decisão judicial que garantia o direito ao procedimento no país.
A decisão de 2022 da Suprema Corte foi tomada com os votos decisivos de 3 magistrados indicados e nomeados por Trump: os conservadores Neil Gorsuch, Brett Kavanaugh e Amy Coney Barrett. Com a medida, vários Estados já passaram a impor restrições severas e proibindo o aborto.
Trump afirmou que “todos, incluindo democratas, republicanos, liberais e conservadores”, desejavam revogar Roe vs. Wade para permitir que os Estados criassem suas próprias leis sobre o tema. Biden rebateu essa afirmação como “ridícula”, argumentando que “a vasta maioria dos especialistas constitucionais” apoiava a jurisprudência quando foi inicialmente decidida.
Anteriormente, o republicano já havia declarado ser “fortemente a favor” do direito ao aborto em casos como estupro, incesto e situações de risco de vida. Voltou a defender essa posição no debate de 5ª (27.jun), afirmando que as pessoas deveriam “seguir seus corações”.
IMIGRAÇÃO
A imigração é um tema sensível para os 2 candidatos, principalmente para o presidente norte-americano. Parte dos eleitores entendem que Biden tem sido leniente sobre a entrada de estrangeiros que procuram se mudar para os EUA.
Durante o debate, Trump tentou explorar ao máximo o tema. Sempre que possível, tentou levar o rumo do debate para o tópico. A escolha faz parte da estratégia de campanha do republicano que, em 2017, viu propostas como a construção do muro com a fronteira do México atrair o eleitorado mais conservador e levá-lo a presidência.
Em vários momentos, Trump afirmou que enquanto era presidente as fronteiras eram seguras e não havia “terroristas” nos EUA. Em paralelo, disse que Biden abriu as portas do país “para pessoas que vieram de hospitais psiquiátricos” e “criminosos”.
A administração Biden tem sido criticada pela maneira como gerencia a entrada de pessoas pela fronteira do país com o México.
Trump, por outro lado, é conhecido por sua atitude intransigente contra a imigração ilegal. O ex-presidente, inclusive, não descartou a possibilidade de estabelecer campos de detenção e prometeu deportar imigrantes ilegais “o mais rápido possível”.
GAFES DE BIDEN
Trump voltou a questionar capacidade de Biden governar por causa de sua idade (81 anos). O democrata é atualmente o presidente mais velho da história dos EUA. Se reeleito, terminaria seu mandato aos 86 anos.
O republicano lembrou dos testes cognitivos que fez como presidente, desafiando Biden a fazer o mesmo. “Eu fiz 2 testes cognitivos e fui muito bem” disse o republicano, que tem 78 anos, sem especificar quais testes fez.
“Acabei de ganhar 2 campeonatos de clube [de golfe], nem mesmo na categoria sênior. Para isso, você precisa ser bastante inteligente e bater a bola longe”, continuou.
Durante o debate, Trump repetidamente afirmou que o presidente era “incapaz” de participar do evento. O presidente dos Estados Unidos, que completará 82 anos em novembro, evitou se aprofundar sobre sua capacidade para um 2º mandato na Casa Branca. Preferiu destacar suas realizações como presidente com o intuito de mostrar que está apto para continuar no cargo.
Mas Biden demostrou fragilidade durante o 1º debate presidencial. Em diversos momentos, parecia estar divagando. Em outros momentos, travou e não conseguiu finalizar pensamentos, como quando tratou do Medicare e imigração.
Outros destaques do debate
- Ucrânia – o governo norte-americano tem sido criticado por hesitações e controvérsias em lidar com crises internacionais. Enquanto a dívida dos EUA decola, o democrata continua a defender o envio de recursos. Trump, por outro lado, declarou que se estivesse no poder a guerra sequer teria sido iniciado. O republicano afirmou que resolveria o conflito antes mesmo de se eleger, mas não detalhou como.
- aborto – Trump declarou que não proibiria o acesso a pílulas abortivas e que é a favor das exceções aceitas para a realização do procedimento. Biden afirmou que apoia a proteção constitucional ao aborto e disse que políticos não podem opinar sobre a saúde da mulher;
- Afeganistão – o republicano classificou como “o dia mais vergonhoso da história do país” quando Biden determinou a retirada das tropas norte-americanas do país asiático;
- conflito em Gaza – Biden citou o apoio do Conselho de Segurança da ONU à proposta de cessar-fogo apresentada pelos EUA e disse ter restringido a venda de armas a Israel. Trump disse que o ataque do Hamas também não teria sido realizado se fosse presidente e não respondeu se apoiaria um Estado palestino;
- invasão ao Capitólio – Trump se esquivou. Disse que “não tinha praticamente nada para fazer”. Declarou que, na data, “a economia estava mais forte” e a fronteira “estava mais segura”;
- processo de Trump X Hunter Biden – o democrata afirmou que nenhum outro presidente dos EUA “fez sexo com atrizes pornô”. Trump negou a acusação e citou a condenação de Hunter Biden por porte ilegal de arma.